Meu ser indignado causa assombro e surpreende muita gente. Choldra Ignóbil! A falta de indignação nas pessoas é o que deveria causar espanto.
Blog de Gleyson Lima Santos (Kakaroto) criado em 2004. Recém-ressuscitado.
domingo, 18 de janeiro de 2009
Indignàre
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Caderno de Cinema 2008
Filmes assistidos - 2008:
01. O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring) [Top]
02. O Senhor dos Anéis - As Duas Torres (The Lord of the Rings: The Two Towers) [Top]
03. O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King) [Top]
04. Ben-hur
05. Os Incríveis [Muito massa]
06. Sunshine - Alerta Solar [Uma bosta]
07. Beowulf [Marrom]
08. Vanilla Sky [Bom]
09. Calígula [Uma indignidade]
10. 11 homens e um segredo (Ocean´s eleven) [Massa]
11. My summer of love [Viagem]
12. Spartacus [Muito bom]
13. Duro de matar (Die Hard) [Filmásso]
14. Duro de matar 2 (Die Hard 2) [Massa tb]
15. Encantada (Enchated) [Um absurdo! De bom]
16. Xeque-mate (Lucky Number Sleven) [Sensacional]
17. Desejo e Reparação (Atonement) [Muito bom]
18. PS: Eu te amo (PS: I love you) [Meeiro] {Cinema}
19. Piratas do Caribe - No fim do mundo (Pirates of the Caribbean: At World's end) [Massa]
20. Transformers [Escalafodético]
21. Teen Wolf (O garoto do futuro) [Bizarro]
22. Alice no país das maravilhas [Sempre maravilhoso]
23. O Julgamento do Diabo (Shortcut to happiness)
23. O Gangster (American Gangster) [Filmaço] {Cinema}
24. Sangue Negro (There will be blood) [Massa]
25. Juno [Filmásso]
26. Conduta de risco (Michael Clayton) [Perda de tempo]
27. Reprise (Reprise) [Doido]
28. Cidade dos homens [Legal]
29. Janela Secreta (Secret Window) [Legal]
30. Frida [Legal]
31. Meu nome não é Johnny [Massa] {Cinema}
32. Ed Wood [Bom]
33. Onde os fracos não têm vez (No Country for old man) [Massa] {Cinema}
34. A viagem de Chihiro [Sensacional!] {Reassisti}
35. Across the Universe [Poderia ser melhor]
36. Reprise [Louco]
37. Elephant [Decepcionou]
38. December boys [Massa]
39. O Rei Leão [Top] {Reassisti}
40. Mad Max - Além da Cúpula do Trovão [Fantástico]
41. Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull [É] {Cinema}
42. O homem-elefante [Viagem]
43. Sicko [Sensacional]
44. Fahrenheit 9/11 [Phoda] {Reassisti}
45. O Guia do mochileiro das galáxias [péssimo]
46. Alta-fidelidade [Massa]
47. Be kind rewind [Legalzinho]
48. The nightmare before christmas [Massa]
49. Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Eternal sunshine of the spotless mind) [Fodástico]
50. The forbidden kingdon [Legal]
51. Being John Malkovich [Viagem/Massa]
52. Intorelable Cruelty
53. Wall+e [Requetebueno] {Cinema}
54. Super high me [Legal]
55. Não somos anjos [Legal]
56. You Don’t Mess With The Zohan [Sensacional]
57. Scent of a Woman [Filmásso]
58. Dona Flor E Seus Dois Maridos [Sensacional] {Reassisti}
59. Breakfast at Tiffanys' [Filmásso]
60. Cabra-cega [Sensacional]
61. Smart People [Prosinha]
62. Hancock [Fodástico]
63. True Romance [Fodástico]
64. The Tracey Fragments [Totalmente insano]
65. Amar... Não Tem Preço (Juno) [Mais legal toda vez que revejo]
66. Zohan - o agente bom de corte [Fodástico]
67. Hors de Prix [Top]
68. Elizabeth [Massa]
69. Elizabeth: A era de ouro [Massa]
70. An american crime
71. Mary Poppins [Supercalifragiolisticexpialidoucious!]
72. Singin in the rain {Reassisti} [Top]
73. John Q [Massa]
74. Mafia [É]
75. The Sound of music [Fodástico]
76. Pulp Fiction {Reassisti} [Top]
77. Hellboy 2 [É]
78. Beetjuice [Massa]
79. The Happening [É]
80. Cloverfield [Filmásso]
81. A viagem de Chihiro [Fodástico]
82. The dark knight [Fodástico]
83. Iron Man [PQP!]
84. The love guru [Legalzinho]
85. Um dia de cão (Dog Day Afternoon) [Phoda!]
86. 21 [Massa]
87. Yella [Loucura]
88. Lolita [Kubrick forever!]
89. Rec [Quase me caguei..]
90. The Shawshank Redemption [Filmásso]
91. Dois Perdidos numa noite suja [Phoda!]
92. Camille Caludel [Uau..]
93. Ballet Shoes [Legal]
94. Bubba Ho-Tep [Apenas a idéia é boa]
95. Ensemble, C'est Tout [Fraquinho]
96. The Other Boylen Girl [De fuder]
97. Deus e o Diabo na terra do sol [Fantástico!]
De antemão, segue o TOP 10 dos filmes que vi em 2008 (com data de lançamento original naquele ano):
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Periódicos: poesias anteriores
O nosso mundo
Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno
Poisando em ti o meu olhar eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos...
Os meus sonhos agora são mais vagos
O teu olhar em mim, hoje é mais terno...
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e presságios!
A Vida, meu amor, quero vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!
Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor! ... As nossas bocas juntas!...
Florbela Espanca
*
3:30 A.M. Conversation
at 3:30 a.m. in the morning
a door opens
and feet come down the hall
moving a body,
and there is a knock
and you put down your beer
and answer.
god damn it, she says,
dont' you ever sleep?
and she walks in
her hair in curlers
and herself in a silk robe
covered with rabbits and birds
and she has brought her own bottle
to which you splendidly add
2 glasses;
her husband, she says, is in Florida
and the sister sends her money and dresses and she has been looking for a job
for 32 days.
you tell her
you are a jockey's agent and a
writer of jazz and love songs,
and after a couple of drinks
she doesn't bother to cover
her legs
with the edge of the robe
that keeps falling away.
they are not bad legs at all,
in fact, very good legs,
and soon your are kissing a
head full of curlers.
and the rabbits are beginning
to wink, and Florida is a long way
away, and she says we are not strangers
really because shes has seem me
in the hall.
and finally
there is very little
to say.
TRADUÇÃO:
Conversa às Três e Meia da Madrugada
às três e meia da madrugada
a porta se abre
e há passos na entrada
que trazem um corpo,
e uma batida
e você repousa a cerveja
e vai ver quem é.
com os diabos, ela diz,
você não dorme nunca?
e ela entra
com o cabelo nos rolinhos
e num robe de seda
estampado de coelho e passarinho
e ela trouxe a sua própria garrafa
à qual você gloriosamente acrescenta
2 copos;
o marido, ela diz, está na Flórida
e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela,
e ela tem estado procurando emprego
nos últimos 32 dias.
você diz a ela
que é um cambista de jóquei e
um compositor de jazz e canções românticas,
e depois de uns dois copos
ela não se preocupa com cobrir
as pernas
com a beira do robe
que está sempre caindo.
não são pernas nada feias,
na verdade são pernas ótimas,
e logo você está beijando uma
cabeça cheia de rolinhos,
e os coelhos estão começando a
piscar, e a Flórida é longe, e ela diz
que não somos realmente estranhos
porque ela tem me visto na entrada.
e finalmente
há muito pouca coisa
para dizer.
**
Morte
Terna como esta manhã
Fria e mansa como a água
Era triste, pois que era lúgubre
Era certa, pois nunca errava
E era bonita sua chegada
Na densa escuridão
Vinha como curvada
Amedrontava
Mas não punha susto
Tinha olhos, ou não tinha
Tinha mãos, que não senti
Mais não sei
Nada vi
Fui coberto de interiores e uma estranha sensação
Senti pesado o coração
Afundar-se em mim
Então eu a vislumbrei
Não com os olhos
Com a alma ou com o que quer que seja
Sem resistir
Deixei-me carregar no cardo
Deixei-me sucumbir
Como num forte amor
E fiquei por muito tempo assim
Na minha infinita paz
No seu imenso langor
[protopoesia]
**
Amor que morre
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos pra partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há de vir!
Florbela Espanca (Reliquiae, 1931)
**
A cacimba
Tá vendo aquela cacimba
lá na bêra do riacho,
im riba da ribanceira,
qui fica, assim, pru dibáxo
de um pé de tamarinêra.
Pois, um magóte de môça
quage toda manhanzinha,
foima, assim, aquela tuia,
na bêra da cacimbinha
prá tumar banho de cuia.
Eu não sei pru quê razão,
as águas dessa nacente,
as águas que ali se vê,
tem um gosto diferente
das cacimbas de bêbê...
As águas da cacimbinha
tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça...
Tem um gostim do suó
do suvaco déssas môça...
Quando eu vejo éssa cacimba,
qui inspio a minha cara
e a cara torno a inspiá,
naquelas águas quiláras,
Pego logo a desejá...
... Desejo, prá quê negá?
Desejo ser um caçote,
cum dois óio dêsse tamanho
Prá ver aquele magóte
de môça tumando banho!
Zé da Luz (1904-1965, Arcoverde-PE)
**
Elle est retrouvée!
Quoi? L' éternité.
C est la mar mêlée
Au soleil
Mon âme éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.
Donc tu te dégages
Des humains suffrages,
Des communs élans!
Tu voles selon...
— Jamais l' ésperance.
Pas d' oríetur.
Science et patience,
Le suplice est sur.
Plus de lendemain,
Braises de satin,
Votre ardeur
C' ést le devoir.
Elle est retrouvée!
— Quoi? — L' éternité.
C' est la mer mêlée
Au soleil.
Tradução de Claudio Daniel:
Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.
Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.
Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...
— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.
Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.
Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.
j.-n. a. rimbaud (1871)
**
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
v. maiakovski (1927)
**
deus
algum
indu
ogum
vishnu
precisa
da tua prece
tua pressa
pessoa
só teu pulso
acelera
você padece
padecer
te resta
tudo
um belo dia
desaparece
**
Sonhos
Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir…
Que se sonhasse a chorar…
Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca… um lamento…
Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte
Despedaçar esses laços!…
…É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!
Florbela Espanca (in Trocando Olhares - 12/08/1916)
**
Todas as Cartas de Amor são Ridículas
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)
**
maldito
o que não deixa cantar
o canto é fraco
maldito
o que não deixa cantar
o canto é forte
maldito
o que não deixa cantar
o canto gera outro canto
maldito
o que não deixa cantar
o canto nunca deixa de cantar
Paulo Leminski
*
VII
(em Manhã em Cem sonetos de amor)
"Vendrás conmigo" —dije— sin que nadie supiera
dónde y cómo latía mi estado doloroso,
y para mí no había clavel ni barcarola,
nada sino una herida por el amor abierta.
Repetí: ven conmigo, como si me muriera,
y nadie vio en mi boca la luna que sangraba,
nadie vio aquella sangre que subía al silencio.
Oh amor ahora olvidemos la estrella con espinas!
Por eso cuando oí que tu voz repetía
"Vendrás conmigo" —fue como si desataras
dolor, amor, la furia del vino encarcelado
que desde su bodega sumergida subiera
y otra vez en mi boca sentí un sabor de llama,
de sangre y de claveles, de piedra y quemadura.
Tradución:
"VIRÁS comigo", disse, sem que ninguém soubesse
onde e como pulsava meu estado doloroso
e para mim não havia cravo nem barcarola,
nada senão uma ferida pelo amor aberta
Repeti: vem comigo, como se morresse,
e ninguém viu em minha boca a lua que sangrava,
ninguém viu aquele sangue que subia ao silêncio.
Oh amor, agora esqueçamos a estrela com pontas!
Por isso quando ouvi que tua voz repetia
"Virás comigo", foi como se desatasses
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado
que de sua cantina submergida soubesse
e outra vez em minha boca senti um sabor de chama,
de sangue e cravos, de pedra e queimadura.
Pablo Neruda
**
Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.
Mário Quintana
**
Por que insistes em querer achar a mentira?
Se tão somente confissões eu te remeto.
Que tanto presumes que faço da vida?
Quando inda fere-me na mão a ponto do teu seio.
Por que me maltratas, quando não me assassinas?
De certo, desentedia-te com meu aperreio.
Queres, pois, minha espuma, meu desassossego
E assim mesmo, receio, por essa alma que me paralisa.
Quando resolveres ter novo plano
De talvez fazer muito de mim
Quem sabe amarás sem espanto
Quem sabe tu vens de novo aqui.
Para cometermos o mesmo lerdo engano
De nos ferir por debaixo dos panos.
**
Não, tu não és um sonho, és a existência
Tens carne, tens fadiga e tens pudor
No calmo peito teu. Tu és a estrela
Sem nome, és a morada, és a cantiga
Do amor, és luz, és lírio, namorada!
Tu és todo o esplendor, o último claustro
Da elegia sem fim, anjo! mendiga
Do triste verso meu. Ah, fosses nunca
Minha, fosses a idéia, o sentimento
Em mim, fosses a aurora, o céu da aurora
Ausente, amiga, eu não te perderia!
Amada! onde te deixas, onde vagas
Entre as vagas flores? e por que dormes
Entre os vagos rumores do mar? Tu
Primeira, última, trágica, esquecida
De mim! És linda, és alta! és sorridente
És como o verde do trigal maduro
Teus olhos têm a cor do firmamento
Céu castanho da tarde – são teus olhos!
Teu passo arrasta a doce poesia
Do amor! prende o poema em forma e cor
No espaço; para o astro do poente
És o levante, és o Sol! eu sou o giro
O giro, o girassol. És a soberba
Também, a jovem rosa purpurina
És rápida também, como a andorinha!
Doçura! lisa e murmurante... a água
Que corre no chão morno da montanha
És tu; tens muitas emoções; o pássaro
Do trópico inventou teu meigo nome
Duas vezes, de súbito encantado!
Dona do meu amor! sede constante
Do meu corpo de homem! melodia
Da minha poesia extraordinária!
Por que me arrastas? Por que me fascinas?
Por que me ensinas a morrer? teu sonho
Me leva o verso à sombra e à claridade.
Sou teu irmão, és minha irmã; padeço
De ti, sou teu cantor humilde e terno
Teu silêncio, teu trêmulo sossego
Triste, onde se arrastam nostalgias
Melancólicas, ah, tão melancólicas...
Amiga, entra de súbito, pergunta
Por mim, se eu continuo a amar-te; ri
Esse riso que é tosse de ternura
Carrega-me em teu seio, louca! sinto
A infância em teu amor! cresçamos juntos
Como se fora agora, e sempre; demos
Nomes graves às coisas impossíveis
Recriemos a mágica do sonho
Lânguida! ah, que o destino nada pode
Contra esse teu langor; és o penúltimo
Lirismo! encosta a tua face fresca
Sobre o meu peito nu, ouves? é cedo
Quanto mais tarde for, mais cedo! a calma
É o último suspiro da poesia
O mar é nosso, a rosa tem seu nome
E recende mais pura ao seu chamado.
Julieta! Carlota! Beatriz!
Oh, deixa-me brincar, que te amo tanto
Que se não brinco, choro, e desse pranto
Desse pranto sem dor, que é o único amigo
Das horas más em que não estás comigo.
Vinícius de Moraes
**
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos , raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade
( Antologia da Nova Poesia Brasileira
J.G . de Araujo Jorge - 1a ed. 1948 )
**
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Mário Quintana
**
Eu queria querer você sem chance
Sem conseguir te evitar por pudor,
Te querer tal e qual um animal
Que precisa e não abre mão de precisar.
Te amar não basta,
Eu queria te atacar:
Ser muito mais instinto
Que mero desejo...
Ser menos humana,
Cultural.
Queria ser natural
E desumanamente sincera.
**
Eu sei! Eu sei!
Se sair daqui, o rio me engolirá...
É o meu destino: hoje devo morrer!
Mas não, a força de vontade pode superar tudo
Há obstáculos, eu reconheço
Não quero sair.
Se tenho que morrer, será nesta caverna.
As balas, o que podem as balas fazer comigo
se meu destino é morrer afogado? Mas vou
vencer o destino. O destino pode ser
conseguido pela força de vontade.
Morrer, sim, mas crivado de
balas, destroçado pelas baionetas, se não, não. Afogado não...
Uma recordação mais duradoura do que meu nome
É lutar, morrer lutando.
Ernesto Guevara (17 de janeiro de 1947)
**
É noite. A Lua, ardente e terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia . . .
Dormem as sombras na alameda
Ao longo do ermo Piabanha.
E dele um ruído vem de seda
Que se amarfanha . . .
No largo, sob os jambolanos,
Procuro a sombra embalsamada.
(Noite, consolo dos humanos!
Sombra sagrada!)
Um velho senta-se ao meu lado.
Medita. Há no seu rosto uma ânsia . . .
Talvez se lembre aqui, coitado!
De sua infância.
Ei-lo que saca de um papel . . .
Dobra-o direito, ajusta as pontas,
E pensativo, a olhar o anel,
Faz umas contas . . .
Com outro moço que se cala,
Fala um de compleição raquítica.
Presto atenção ao que ele fala:
— É de política.
Adiante uma senhora magra,
Em ampla charpa que a modela,
Lembra uma estátua de Tanagra.
E, junto dela,
Outra a entretém, a conversar:
— "Mamãe não avisou se vinha.
Se ela vier, mando matar
Uma galinha."
E embalde a Lua, ardente e terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia . . .
Manuel Bandeira
**
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinícius de Moraes
**
Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure
vem de dentro
Vem da zona escura
donde vem o que sinto
sinto muito
sentir é muito lento
Paulo Leminski
**
Amiga, no te mueras.
Óyeme estas palabras que me salen ardiendo,
y que nadie diría si yo no las dijera.
Amiga, no te mueras.
Yo soy el que te espera en la estrellada noche.
El que bajo el sangriento sol poniente te espera.
Miro caer los frutos en la tierra sombría.
Miro bailar las gotas del rocío en las hierbas.
En la noche al espeso perfume de las rosas,
cuando danza la ronda de las sombras inmensas.
Bajo el cielo del Sur, el que te espera cuando
el aire de la tarde como una boca besa.
Amiga, no te mueras.
Yo soy el que cortó las guirnaldas rebeldes
para el lecho selvático fragante a sol y a selva.
El que trajo en los brazos jacintos amarillos.
Y rosas desgarradas. Y amapolas sangrientas.
El que cruzó los brazos por esperarte, ahora.
El que quebró sus arcos. El que dobló sus flechas.
Yo soy el que en los labios guarda sabor de uvas.
Racimos refregados. Mordeduras bermejas.
El que te llama desde las llanuras brotadas.
Yo soy el que en la hora del amor te desea.
El aire de la tarde cimbra las ramas altas.
Ebrio, mi corazón. bajo Dios, tambalea.
El río desatado rompe a llorar y a veces
se adelgaza su voz y se hace pura y trémula.
Retumba, atardecida, la queja azul del agua.
Amiga, no te mueras!
Yo soy el que te espera en la estrellada noche,
sobre las playas áureas, sobre las rubias eras.
El que cortó jacintos para tu lecho, y rosas.
Tendido entre las hierbas yo soy el que te espera!
Pablo Neruda
**
Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena
Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo
E estão me despertando de noite.
Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena
Eles são maduros e úmidos e inquietos
E sabem tirar a volúpia de todos os frios.
Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma
Cortai os peitos da mulher morena
Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono
E trazem cores tristes para os meus olhos.
Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes
Traze-me para o contato casto de tuas vestes
Salva-me dos braços da mulher morena
Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim
São como raízes recendendo resina fresca
São como dois silêncios que me paralisam.
Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena
Livra-me do seu ventre como a campina matinal
Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria.
Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena
Reza para murcharem as pernas da mulher morena
Reza para a velhice roer dentro da mulher morena
Que a mulher morena está encurvando os meus ombros
E está trazendo tosse má para o meu peito.
Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus últimos cantos
Dai (...) à mulher morena!
Vinícius de Moraes
**
de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo
esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima
de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito
pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito
que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar
tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade
o pau na vida
o vinagre
vinho suave
pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
Paulo Leminski
**
Tome, Dr., esta tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Augusto dos Anjos
**
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
Cora Coralina
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Sem amor emprego trabalho
Sem aula
Namorada
A falta que me faz
O PC
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Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei ...
São tantos os que me amaram !
São tantos os que eu amei !
Mas tu - que rude contraste !
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nesta alma, ficaste,
De todos os que eu amei.
Paulo Setúbal
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deixe de sândice
que vão de poesia
em poesia não existe
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Erro é teu. Amei-te um dia
Com esse amor passageiro
Que nasce na fantasia
E não chega ao coração;
Nem foi amor, foi apenas
Uma ligeira impressão;
Um querer indiferente,
Em tua presença vivo,
Morto, se estavas ausente.
E se ora me vês esquivo,
Se, como outrora, não vês
Meus incensos de poeta
Ir eu queimar a teus pés,
É que, — como obra de um dia,
Passou-me essa fantasia.
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras.
Tuas frívolas quimeras,
Teu vão amor de ti mesma,
Essa pêndula gelada
Que chamavas coração,
Eram bem fracos liames
Para que a alma enamorada
Me conseguissem prender;
Foram baldados tentames,
Saiu contra ti o azar,
E embora pouca, perdeste
A glória de me arrastar
Ao teu carro...Vãs quimeras!
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras...
Machado de Assis
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nos demais o coração tem morada certa,
fica bem aqui dentro do peito,
mas para mim, a anatomia ficou louca,
eu... sou todo coração.
Vladimir Maiakovski
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Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é quem estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não em outra alma.
Só em Deus ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manuel Bandeira
Periódicos: Acervo
Vai-te, Poesia! José Gomes Ferreira
Desejo primeiro Victor Hugo
O nosso mundo Florbela Espanca
3:30 A.M. Conversation Charles Bukowski
Morte protopoesia
Amor que morre Florbela Espanca
A cacimba Zé da Luz
Elle est retrouvée Rimbaud
Não estamos alegres Maiakovski
deus Paulo Leminski
Sonhos Florbela Espanca
Todas as Cartas de Amor são Ridículas Álvaro de Campos
maldito Paulo Leminski
VII Pablo Neruda
Canção do amor imprevisto Mário Quintana
.41 protopoesia
Cântico Vinícius de Moraes
Poema De Sete Faces Carlos Drummond de Andrade
Bilhete Mário Quintana
Poema da Agressividade Mônica Buarque
Eu sei Ernesto Guevara
O inútil luar Manuel Bandeira
Soneto de Separação Vinícius de Moraes
Parada Cardíaca Paulo Leminski
Amiga, no te mueras Pablo Neruda
A volta da mulher morena Vinícius de Moraes
enchantagem Paulo Leminski
Tome, Dr., esta tesoura Augusto dos Anjos
Aninha e suas pedras Cora Coralina
Nunca havia imaginado protopoesia
Dos lábios que me beijaram Paulo Setúbal
poesia vã protopoesia
Erro Machado de Assis
nos demais o coração tem morada certa Maiakovski
Se queres sentir a felicidade de amar Manuel Bandeira
Desejo primeiro
Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você sesentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.
Victor Hugo
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7. Francisco, forró y frevo (Chico César)
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9. Tipo Exportação (Café com blues)
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