Tranqüilo, tranqüilo. Calma no Brasil! Sossega leoa, sossega a “piriquitita”, como diz Regolino. Olha a afobação. Pra quê tanta pressa? Por que tanta previsão? O mundo continua aí, como a sua vida, não vão fugir. Eu estou aqui. Olha pra mim. Pára um pouco.
Opa, pare aí um pouco eu por favor, do contrário ter-se-á este post aqui de ser reescrito em verso desse jeito. Na ânsia de querer falar o que estou para falar, também eu acabei me antecipando e quase coloco a carroça à frente dos burros, como diria a geração de 60. Bem.. passado o nonsense, eis a situação:
Todos aí preocupados com o futuro, não é mesmo? (Sim, leitor, estou falando contigo). Todos pensando no fim da faculdade, no concurso que têm que estudar para, na pós-graduação mais rápida que puderem fazer, na ruma de dinheiro que quererão ganhar para casar com os respectivos pretendentes (ou não), no trabalho por vir, na vida de adulto que baterá à porta. Logo, é preciso pensar e conjecturar e prever e antever as opções, pois o que nos aguardará o futuro, não é verdade?
Sinceramente, estou cansado dos comedidos, dos preocupados com a prova de hoje a 8 dias, dos que, antes de acabar o carnaval, compram a festa de São João, dos que antecipam. Querem antecipar até tua fala, teu pensamento – “já sei o que vai dizer”, “sei o que deve estar pensando” – ora, se já sabe, então não percamos tempo dialogando, faça você um monólogo com a tua e a minha parte e eu quedo aqui te escutando. Vejo as pessoas pensando tão a frente de mim, tão preocupadas, tão sem tempo para ficar e conversar, que às vezes penso se não estaria eu sendo imprudente em não lembrar do que acontecerá no dia depois de depois de amanhã.
Talvez seja realmente imprudência minha, talvez este texto de hoje seja um reflexo do meu caráter procrastinador (o que sou assumidamente), mas fato: enfastiam-me aqueles que fazem tantos planos a longo prazo, afinal, o que há de tão especial assim nesse futuro? Por que o futuro contém tanta felicidade? Não poderíamos, por acaso, sermos felizes agora? Projetam-se tanto deles mesmos no futuro que parece que o presente é um eterno processo de feitos, feitos que devem ser comedidos e precisamente calculados para alcançarem um propósito maior, que está sempre à frente, um porvir (ou devir, ê lelê Nietzsche) que garantirá a tal felicidade vindoura.
Não parece-lhes certo que talvez a felicidade possa estar garantida no momento, naquele específico momento que você ria com um amigo, que você beijava (ou pecava com) sua namorada(o), que eu e você brindávamos à mesa de um bar. Confio no que tenho, não no que terei ou no que me aguarda, até por que o tempo pode transformar tudo que tenho em nada, como numa ilusão. De modo que, caso um dia decidirem parar um pouco a rotina de seus importantes afazeres de planejamento futurístico, liguem para mim e paguem-me um cowboy [risos.. brincadeirinha], sério: apenas façam alguma coisa de agradável, alguma coisa que há muito os prazos impediam que o fizesse. Sei lá, isto aqui não é auto-ajuda: Reproduzam a espécie, meus filhos! Desfrute seu presente.
Agora, por favor, não pensem que isto aqui é filosofia nova, saibam que é século XXI e tudo já foi, de algum modo, pensado. É 2009, e como repensei este assunto, reproduzo-o aqui com as minhas palavras e minha humilde opinião sobre o caso. Então, ladies and gentlemen, com vocês, meu preceptor que dispensa apresentações, Arthur Schopenhauer:
“Planos e preocupações com o futuro, ou também a saudade do passado, ocupam-nos de modo tão contínuo e duradouro, que o presente quase sempre perde a sua importância e é negligenciado; no entanto, somente o presente é seguro, enquanto o futuro e mesmo o passado quase sempre são diferentes daquilo que pensamos. Sendo assim, iludimo-nos uma vida inteira”.
Desejo aditar ainda que desencorajo percepções carpe diem da visão que expus, pelo menos não como o da acepção da escola árcade do final do século XVIII, pois quem vive em demasia no presente são os levianos/ inconseqüentes/ irresponsáveis/ como queiram. Só o que eu peço aqui é um pouco de imprudência, até um pouco da saudável loucura momentânea, ou mesmo a simples "colheita do dia" de Horácio, uma inocente idéia como esta: “Gleyson, vamos beber hoje até lamber o asfalto?” Eu diria: “Por favor, caro amigo, por favor”.
P.S.: Pra terminar, saca só a maluquice (ou genialidade, se preferirem): “A maior sabedoria é ter o presente como objeto maior da vida, pois ele é a única realidade, tudo o mais é imaginação. Mas poderíamos também considerar isso nossa maior maluquice, pois aquilo que existe só por um instante e some como sonho não merece um esforço sério.” (SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como Vontade e Representação).
Vossa Senhorina fazendo-me chorar praticamente.. pode usar como discurso de formatura e tal.
ResponderExcluirNobre Literário, será que a porra do futuro nunca chega? e será que ele vale a pena?
Suas palavras deixam pessoas metódicas e planejadoras como eu em depressão, sabia?
s a f a d i l h o ..
PQP!..tava precisando ler um post prazeroso desses. Ando preocupada com meu futuro..e até as pessoas andam preocupadas com meu futuro..apostando nele. EVER.
ResponderExcluirenfim..Tio Tuco SCHOPENHAUER e Tio Gleyson têm toda razão. E sak só..o post mudou minha noite, e quem sabe meus proximos dias.
valeu! bjo
Adorei o que li.. precisava ler isto, às vezes preciso ler essas coisas.. para ver se desencano de algumas outras.
ResponderExcluirO presente é algo intenso, por isso sou a favor das mudanças, das aventuras, de se fazer o que der na teia..sabe? Preocupar-se demais faz com que "vivamos menos"..
.. Beijos!
Em Schopenhauer a genialidade e maluquice andam juntas..
ResponderExcluirOlha, coração, acho mesmo é que se conseguíssemos equilibrar nossa saudade do passado e nossas preocupações com o futuro, viveríamos num "presente perfeito". Mas nem esse tempo verbal existe...