quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Top 5 álbuns de 2009

Aproveitando que neste naquele memorável dia de 04 de dezembro vazou o disco novo de Mallu Magalhães, resolvi terminar a lista dos melhores álbuns de 2009 na minha opinião.Fazer esta lista esse ano foi dureza, para se ter uma parca idéia: da primeira parcial publicada em julho tive que retirar 5 álbuns!
Foram lançados muitos discos ótimos de janeiro a dezembro, e, surpreendentemente, neste ano o Brasil comandou na minha lista geral.. que bom! Enfim, os eleitos:

1. Estudando A Bossa: Nordeste Plaza (Tom Zé)
Bada-badi, bada-badá! Na terceira edição dos “Estudandos” (os outros foram o “Estudando o Samba” em 1975 e o “Estudando o Pagode” em 2005), Tom Zé explica a Bossa e a história do produto do grau mais alto da capacidade humana já produzido pelo Brasil nesse disco cheio de síncopes e bim-boms. Álbum “sério” de quem é um dos maiores mestres contemporâneos (leia-se de 40 anos pra cá) na arte de fazer música! "Esse verdadeiro documentário sonoro", citando o Maestro Júlio Medaglia. Não há muito que deva-se dizer, só escutar! Favoritas: Outra Insensatz, Poe!, Síncope Joãobim, João Nos Tribunais, Roquenrol Bim-Bom.

2. Navega (Mayra Andrade)
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO6CXj__0dMo10wiw2DtsBxhFb1dXIBt4hutEXzaxjqC-47IAmrsE7MuKKBMtn_tfGKC8Z1kYMbDhY5K-2xDM2-VqUTTGQDWQz1lv_BdiW-wgMaCzr3MAgyieVswFXAjt_u9D-kw/s320/mayraandrade.jpgMayra Andrade é a cabo-verdiana que tomou meu coração de assalto no começo do ano. A vi pela primeira vez num vídeo do youtube (apagaram =/) em que ela cantava com Mariana Aydar a música Tunuka, vídeo que a mim foi “recomendado” por Caetano Veloso através de seu antigo blog; e foi através dela e dele que passei a conhecer  também Orlando Pantera, autor de Tunuka e Lapidu na Bo e futuro expoente de Cabo Verde, se não fosse pelo acidente trágico que levou à sua morte prematura. “Navega” é cantado todo no dialeto crioulo – com exceção da faixa Comme s'il en pleuvait, em francês – e da mesma forma que a língua encanta, assim faz também o “poder suave” da voz de M.A. e de todas as músicas, cuja originalidade é de deixar qualquer um estarrecido.. uma melhor que a outra! Favoritas: Regasu, Mana, Tunuka, Lapidu Na Bo, Navega, Lua.

3. Tonight: Franz Ferdinand (Franz Ferdinand)
http://3.bp.blogspot.com/_RZZEzqiR9hs/SXGPVcGWi_I/AAAAAAAADnI/CPBXp5NN_fs/s400/Ferdinand+-+Tonight+Franz+Ferdinand+2009+(Full+Album).jpgMuito esperado. Esperadíssimo! O mais esperado do ano! E isso tende a ser ruim, pois muitas vezes as bandas indies acabam não correspondendo à expectativa, mas não,  isso não aconteceu com Franz Ferdinand. O “Tonight” correspondeu a todas as minhas expectativas. Poha niuma! As superou de lavada! Foi como acordar com um banho de água gelada na cara.. Acorda, que Hoje à noite: Franz Ferdinand! Impossível ouvir esse disco apenas sentado na cadeira. Desafio: tente não dançar! Favoritas: Can't Stop Feeling, No You Girls, Ulysses, What She Came For, Live Alone, Lucid Dreams.

4. Lhasa (Lhasa de Sela)
Mi pasión. Ma passion. My love. Lhasa é linda sob todas as formas, mesmo ficando careca, eu sempre a acharei das mais lindíssimas das mulheres! (Curioso como o artístico/espírito influi no físico). E devo agradecer aqui – mesmo que indiretamente – a uma pessoa a mim muito especial, quem me apresentou Lhasa, juntando esta nova paixão ao já desordenado emaranhado de mulheres que é meu coração [culpa tua, vês?]. Enfim, Lhasa de Sela é quem considero ser a Florbela Espanca da música. Ela sofre, ela chora, ela é triste e você consegue perceber toda essa emoção na sua voz única e marcante, mas ao mesmo tempo ela sorri enquanto canta, ela deleita-se na sua própria amargura, e o faz delirar com ela. Ela é artista no melhor sentido do termo: “Eu nunca quis ser uma estrela pop. Queria fazer música do fundo do meu coração. A carreira artística é importante, mas para mim a minha vida tem ainda mais valor. Quero ser verdadeira para comigo. Senão sou apenas uma operária da música.” E seu terceiro disco, que leva seu nome, expressa exatamente esse desejo, trazendo o álbum dessa vez todo em inglês, ela canta músicas de alma, de amor fecundo, de soror saudade, de charneca em flor.. poesia em música! Que posso mais dizer? Ouçam. (E ouçam também “La llorona”, álbum em espanhol, e “The living road”, em suas línguas maternas e em francês). Favoritas: Is Anything Wrong, Love Came Here, Anyone and Everyone, I'm Going in, The Lonely Spider, A Fish on Land.

5. Zii e zie (Caetano Veloso)
ziiezieGraças a deus, Caetano e Chico ainda fazem discos, ainda compõem, ainda musicam o Brasil! E neste ano, a vez foi de Caetano com seu '”zii e zie” ou “tios e tias”, nome escolhido como forma de aproximação com São Paulo, mesmo sendo um álbum, essencialmente, de samba carioca e de cenário literário tipicamente brasileiro, com “letras que olham para mais longe” do que no a/i/nterior “Cê”, conforme diz o próprio. Negros, asfalto, pneu e mar, é assim que Caetano descreve a cena de clima noturno da música Por quem?, a mais alta e misteriosa (e por isso e mais, belíssima) do disco, se não de toda obra do cantor. Nesta sua fase, ouve-se um Caetano ao encontro da velhice, ao mesmo tempo em que está alheio a ela, um safado, um despreocupado, que já passou do tempo de se importar com a crítica e de prender-se a  qualquer coisa que seja; ante guitarras transambas, arranjos estranhos e perfeitamente produzidos, está o Caetano que nunca deixa de ser original, mesmo trazendo no novo trabalho dois sambas antigos, Incompatibilidade de Gênios e Ingenuidade, gravados originalmente por Clementina de Jesus e através dos quais Caetano começou a pensar na realização do CD, que foi novamente gravado em conjunto com a bandaCê – Marcelo Callado, Ricardo Dias Gomes e Pedro Sá – unida para a consecução do álbum lançado em 2006. Zii e zie: Mais um para a discografia básica brasileira. (Registre-se que Los Hermanos é citado em uma das músicas, além de também o ser no pre-release, bem como o produtor  Kassin).  Preferidas: Por Quem?, Lobão Tem Razão, A Cor Amarela, Base de Guantánamo, Falso Leblon, Diferentemente.

…to be continued

sábado, 21 de novembro de 2009

.22 Que é de Nelson Rodrigues?

Que magia fora esta?
Ao meu coração que propina deste?
Não gosto d'outra, ora essa?

Não, por ti só
Temo que meu amor confesse

Qual o que? Será fato?
Que é de meu domínio?
Que me faço acordado?
Pensando em ti a essa hora?
Deu-se a melodia. Isola!

Ficar a depender de ti
É padecer sem ter porvir.

Comigo, não, violão.
Que sorte mais vil!
Sossega meu coração.
Calma no Brasil.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Com a Palavra, Gleyson Kakaroto


O que deu pra salvar do vídeo, "realizado" por @El_Nau, da Mesa Redonda de 30 de outubro de 2009, no bar Candieiro, nesta cidade.
Link versão YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=YK6B3Mus3x0

domingo, 1 de novembro de 2009

Top 100 filmes de todos os tempos

A seguir, a lista dos meus 100 filmes favoritos de todos os tempos. Notem que esta não é uma lista dos 100 melhores filmes, aos quais eu poderia submeter a uma análise pura de aspectos técnicos de filmagem, roteiro, direção, atuação, etc. Esta é, sim, uma lista dos filmes mais importantes e queridos para mim, baseado simplesmente na minha opinião de merd* de cinéfilo. Está dividia em duas categorias: top 10, por ordem de preferência, e top 90, em ordem cronológica.


  1. 2001 - Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey), Stanley Kubrick, 1968
     2001
  2. O Poderoso Chefão (Godfather), Francis Ford Coppola, 1972

  3. Cantando na chuva (Singin' in the rain), Gene Kelly e Stanley Donen, 1952

  4. Matrix (The Matrix), Andy Wachowski e Lana Wachowski, 1999

  5. Os Bons Companheiros (Goodfellas), Martin Scorsese, 1999

  6. Pulp Fiction - Tempos de Violência (Pulp Fiction), Quentin Tarantino, 1994

  7. Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), Stanley Kubrick, 1971

  8. Cães de Aluguel (Reservoir Dogs), Quentin Tarantino, 1992

  9. Grease - Nos tempos da brilhantina (Grease), Robert Kleiser, 1978

  10. Sunshine - O despertar de um século (Sunshine), István Szabó, 1999

  11. Metrópolis (Metropolis), Fritz Lang, 1927
  12. Luzes da Cidade (City Lights), Charles Chaplin, 1931
  13. Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs), William Cottrell, David Hand e outros, 1937
  14. ...E o Vento Levou (Gone with the Wind), Victor Fleming e outros, 1939
  15. O Mágico de Oz (The Wizard of Oz), Victor Fleming e outros, 1939
  16. Cidadão Kane (Citizen Kane), Orson Welles, 1941
  17. Casablanca, Michael Curtiz, 1942
  18. O Terceiro Homem (The Third Man), Carol Reed, 1949
  19. Crepúsculo dos Deuses (Sunset Blvd.), Billy Wilder, 1950
  20. Disque M Para Matar (Dial M for Murder), Alfred Hitchcock, 1954
  21. Os sete Samurais (Shichinin no samurai), Akira Kurosawa, 1954
  22. Rastros de Ódio (The Searchers), John Ford, 1956
  23. O Sétimo Selo (Det sjunde inseglet), Ingmar Bergman, 1957
  24. Psicose (1960)
  25. O Anjo Exterminador (El ángel exterminador, 1962)
  26. Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962) 
  27. Bande à part (1964, Jean-Luc Godard, FRA)
  28. Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)
  29. A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965)
  30. A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1967)
  31. Era Uma Vez no Oeste (C'era una volta il West, 1968)
  32. O Poderoso Chefão II (The Godfather: Part II, 1974)
  33. Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (Monty Python and the Holy Grail, 1975)
  34. Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975)
  35. Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, 1975)
  36. Carrie, a Estranha (Carrie), Brian DePalma, 1976
  37. Taxi Driver - Motorista de Taxi (Taxi Driver, 1976)
  38. Noivo neurótico, Noiva nervosa (Annie Hall, 1977)
  39. Manhattan (1979)
  40. Os Sete Gatinhos (1980, Neville de Almeida, Brasil)
  41. Touro Indomável (Ranging Bull, 1980)
  42. O Iluminado (The Shining, 1980)
  43. Blade Runner - O Caçador de Androides (Blade Runner, 1982)
  44. Gandhi (1982)
  45. Scarface (1983)
  46. De volta para o futuro (Back to the Future, 1985)
  47. Clube dos Cinco (The Breakfast Club, 1985)
  48. Conta Comigo (Stand by Me, 1986)
  49. Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller's Day Off, 1986)
  50. Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987)
  51. Duro de Matar (Die Hard, 1988)
  52. O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (Terminator 2: Judgment Day, 1991)
  53. Os Imperdoáveis (Unforgiven, 1992)
  54. O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas, 1993)
  55. Feitiço do Tempo (Groundhog Day, 1993)
  56. A Igualdade é Branca (Trzy kolory: Bialy, 1994)
  57. O Rei Leão (The Lion King, 1994)
  58. Forrest Gump - O Contador de Histórias (1994)
  59. Ed Wood (1994)
  60. Cassino (Casino, 1995)
  61. Os 12 Macacos (Twelve Monkeys, 1995)
  62. Coração Valente (Braveheart, 1995)
  63. Seven - Os Sete Crimes Capitais (Se7en, 1995)
  64. Trainspotting - Sem Limites (Trainspotting, 1996)
  65. Princesa Mononoke (Mononoke-hime, 1997)
  66. A outra história americana (American History X, 1998)
  67. O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998)
  68. Beleza Americana (American Beauty, 1999)
  69. Clube da Luta (Fight Club, 1999)
  70. South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes (South Park: Bigger Longer & Uncut, 1999)
  71. O Tigre E o Dragão (Wo hu cang long, 2000)
  72. Gladiador (Gladiator, 2000)
  73. Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaums, 2001)
  74. E Sua Mãe Também (Y tu mamá también, 2001, México) 
  75. Cidade dos Sonhos (Mulholland Dr., 2001)
  76. A viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no kamikakushi, 2001)
  77. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, 2001)
  78. Donnie Darko (2001)
  79. Cidade de Deus (2002)
  80. O Senhor dos Anéis (trilogia), Peter Jackson, 2001-2003 (EUA/Nova Zelândia)
  81. Kill Bill: Vol. 1 e Vol. 2 (2003-2004)
  82. Peixe Grande E Suas Histórias Maravilhosas (Big Fish , 2003)
  83. Procurando Nemo (Finding Nemo, 2003)
  84. Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl, 2003)
  85. Oldboy (Oldeuboi, 2003, Chan-wook Park, 2003, Coréia do Sul)
  86. Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004)
  87. Sin City (2005)
  88. Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006, EUA)
  89. Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited, 2007) 
  90. Tropa de Elite (2007, BRA)
  91. Onde os Fracos não Têm Vez (No Country for Old Men, 2007)
  92. Juno (2008, USA/Canada)
  93. WALL·E (2008, USA)
  94. REC (2008, ESP)
  95. Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009)
  96. A Origem (Inception, 2010)
  97. Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pillgrim vs. The World, 2010)
  98. A Pele que Habito (La piel que habito, 2011) 
  99. Meia-noite em Paris (Midnight in Paris, 2011)
  100. Moonrise Kingdom (2012, USA)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

What Will We Be, Devendra Banhart (2009)

What_Will_We_Be_cover Num domingo xôxo, uma ótima surpresa: Como twittado pelo @trabalhosujo, vazou o disco novo do Devendra Banhart! Depois de uma geinkidama realizada com a força da conexão daqueles meus seguidores caridosos que sempre me ajudam levantando os braços, consegui baixar e alegrar meu dia – por acaso, não alcoólico – ouvindo o What will we be, cujo lançamento está marcado para amanhã, 27 de outubro, pela Warner e com selo da Reprise Records (não mais da XL Recordings).

O álbum foi produzido pelo Devendra e por Paul Butler, líder da banda inglesa The Bees, e conta novamente com as participações do bom e velho Noah Georgeson (produtor dos últimos álbuns de Banhart e louco), Greg Rogove, Luckey Remington e “nosso” querido Rodrigo Amarante (que, ao que parece, dessa vez não canta, mas assume a guitarra principal em quase todas as faixas do disco), todos remanescentes do Smokey Rolls Down Thunder Canyon.

À primeira ouvida, o álbum parece, de modo geral, ser um tanto quanto parado e apático, gerando uma certa indolência para quem escuta, o que para mim certamente foi bom, pois me proporcionou exercitar melhor as viagens que as músicas parecem propor, notáveis nas serenas First e Last Song for B. Conquanto, faixas mais estimulantes destacam-se facilmente no disco, como a ótima 16th & Valencia Roxy Music, com guitarras distorcidas e batida definitivamente dançante, e a última faixa Foolin’, que poderia muito bem ser confundida com um reggeazinho divertido do Toots and The Maytals se não fosse pela voz inconfundível do Devendra.

Há ainda no disco, a versão de estúdio das músicas Baby (agradabilíssima) e Chin Chin & Muck Muck (um freak folk excêntrico bem legal), mostradas há alguns meses atrás pelo youtube em versão ao vivo.

Ainda, quão Mutantes é a faixa Maria Lionza!? Quase que, num sobressalto, escuto a voz de Rita Lee ali àquele meio psicodélico. (E por isso, só tenho a agradecer..)

Sem mais conversa, concluo: um ótimo álbum! E não só, mas um ótimo álbum que, praticamente, salvou meu domingo. Enfim: para ser ouvido várias vezes. Fica a recomendação. Obs.: Não postarei link para download (porque não posso), portanto procurem por si mesmos – dica: há um easteregg neste post.

9280385 
    Amarante c/ Devendra

Tracklist:
01 Can’t Help but Smiling
02 Angelika
03 Baby
04 Goin’ Back
05 First Song for B
06 Last Song for B
07 Chin Chin & Muck Muck
08 16th & Valencia, Roxy Music
09 Rats
10 Maria Lionza
11 Brindo
12 Meet Me at Lookout Point
13 Walilamdzi
14 Foolin’

Fontes: Wikipedia, Stereogum

domingo, 25 de outubro de 2009

Teatrismo

P110PICA
Primeiro ato
Primeiro quadro
(Ambiente: casa dele. 'Cenário sem nenhum caráter realista'. Sala que lembra a cor marrom. Clássica. Este cômodo confunde-se com o quarto. Colchão grande no chão. Lençóis jogados. Tudo meio desarrumado, mas que não carece de limpeza ou ordenação. Luz baixa que parece advir do chão. Música "silenciosa" ao fundo: Thelonious Monk & John Coltrane)
Abre-se o pano
Abre cena
Speaker: Ela está na parte da copa, fazendo uma bebida quente (provavelmente chocolate), de camisola e de costas para ele, que está deitado na cama ao chão, virado para a copa, assistindo à cena. Ele, descalço, veste calça e só. Levanta-se e caminha até ela, a abraça por trás, ela se assusta e logo após ri delicadamente, ele a beija no ouvido, ela arrepia-se. Ficam assim abraçados por algum tempo, enquanto ela mexe a colher. “Monk’s mood” começa a tocar, ele repara. Pega-a no colo, ela o beija demoradamente e então, pousa a cabeça ternamente em seu ombro. Ele anda até a sala com ela nos braços, onde a música está mais alta. Os dois ficam de pé e começam a dançar lentamente, pausam e se olham por um instante, se abraçam e recomeçam a dança a pequenos passos. Antes da música acabar, param novamente; ele, num movimento devagar e contínuo, deita-se no chão – não na cama, mas no chão, que está friíssimo – de bruços. Ele a chama. Ela deita-se em cima do corpo dele, simetricamente, com a barriga sobre suas costas, rostos colados. E assim ficam e permanecem, num longo, mas curto tempo.
__________________
Imagem: Femme por Pablo Picasso. Paris, 1906~1907. Oil on canvas.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

.58 Ato

I (III) Contato em teu pelo caro Antes casto ora amado Assim risco tua odre E vou te estragando com tato Ao deitar tua pele em cardos Safo teu corpo e tua sorte Sigo decompondo tua pureza estreme Tu, culpa-se, range os dentes Soltas gemidos de morte II (IV) Sentes a vida n'alma Minha boca que saliva e lava Teus membros, teu tímpano, teu espaço Aborrota-se de prazer Esgota-se o não-dever Tudo parece certo e exato Tornas-te precisa Aguda, inconsciente, passiva Entregas-te, enfim, ao diacho III (V) De súbito, as ervas Envolvem-me, às pressas Invadem meu faro Arrepia-se a espinha Abrem-se os poros que irradiam Gotas de brilho próprio e vasto Neste lapso me tens Então sou teu escravo que vem Molhar teu colo... Encher teu vaso IV (VI) Agarro-te com violência Tu, sem resistências Deixa-te do medo incomum Solto tua carne e assisto Volto diante de teu riso E mordo teu pedaço cru Vejo teu cabelo embaraçar Tua loucura a aflorar Em movimentos dum lindo nu V (VII) Vou te desenhando com a face O dorso, o colo, todo e em partes Traço pernas, coxas e tornozelos Sigo por teus pés e insisto Deslizo, paro em teu umbigo Beijo-o com doce mimo e desvelo Deixo-te absortas marcas Busco teu braço, tua axila resvalada Encontro a intrepidez de teu belo seio

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Dom

Vídeos gravados em Andaraí e Lençóis - Chapada Diamantina - BA, de 10 a 17 de fevereiro de 2007. © Todos os direitos reservados.

Versão YouTube para De Paula:

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Porcaria

gripe-suina-ii

Ontem minha prima me mandou um email, que já havia sido encaminhado e reencaminhado para centenas de pessoas, com o assunto em capital letters “GRIPE SUINA UM TOQUE”, pelo qual era enviado um registro de conversa de msn, onde acima se explicava “Conversa de uma conhecida com um colega que trabalha na Unimed. Vale o toque.” Segue abaixo, pois, a tal conversa:

“eco ® diz: to em panico com esse negcio da gripe. hoje tivemos reunioes com uns medicos da Unimed, os caras falaram que a situação é desesperadora

Lilis diz: ahããã, amigas minhas falaram...

deco ® diz: que os hospitais e as operadoras de saude, tao recebendo oficios do governo pra nao divulgar dados

deco ® diz: morreram 12 medicos em curitiba já, 3 deles cooperados da Unimed

deco ® diz: o HC teve 115 mortes já, mas só pode divulgar que teve 28

Lilis diz: ai q horroooooor

deco ® diz: eles não sabem o que fazer a partir do quinto dia da doença se nao curar até lá

deco ® diz: tão colocando as pessoas em coma induzido pra amenizar o sofrimento

Lilis diz: uiiiiii, chega, não quero mais saber...medo até de sair de casa

deco ® diz: eles falaram que as autoridades não tão divulgando pra nao deixar a população em panico

deco ® diz: mas que na verdade eles tão completamente perdidos

deco ® diz: o jantar que a gente tinah amanha era la no Le Rechaud, no fondue

deco ® diz: um dos casais que tavam indo , o cara é medico. é o Dr. Marclo Tizzot que foi o cara que diagnosticou o primeiro caso da gripe em Ctba.

deco ® diz: ele que falou pra gente desmarcar

deco ® diz: porque nao vale a pena o risco

Lilis diz: aff maria

deco ® diz: aham

deco ® diz: ele falou pra gente pedir uma pizza e ir pra casa dele

deco ® diz: ele falou pra nao fazer nada que seja arriscado

deco ® diz: nao ir no shopping, nao ir em bar, boate, não ir nas nights, em restaurantes então pior ainda, pior ainda nos que são por Kilo

deco ® diz: porque todo mundo usa os mesmos pegadores

Lilis diz: putz, acho q nem vou ao mercado hj então

deco ® diz: esta PUNK ao maximo a situação

deco ® diz: os caras tão desesperados

deco ® diz: tem uma amiga minha que é medica no HC, disse que la ta o caos, ela ta com 6 amigos internados com a gripe, todos medicos

Lilis diz: eles falaram se tem solução???

Lilis diz: ou é só esperar?

deco ® diz: nao tem solução. a solução é só se diagnistitcar ela ante do virus chegar no pulmao, senao é muito dificil

Lilis diz: mas e vai ser assim até o resto do ano???

deco ® diz: é por isso que eles tão em panico ninguem sabe

deco ® diz: a Unimed disse que tem um documento na mao que parece que segunda feira em Curitiba, vai ser decretado estado de calamidade publica e vão mandar parar a cidade

deco ® diz: ninguem pode sair de casa

deco ® diz: vamos esperar

deco ® diz: essa minha amiga, disse que o virus tá em Nivel 1 ainda, e que ele deve ir ate o nivel 4

Lilis diz: mas tá...e a solução q eles falaram é ficar em casa pra não propagar o vírus, e assim o vírus some?

deco ® diz: sim

deco ® diz: porque dai para de disseminar

deco ® diz: e eles matam todos os focos

deco ® diz: foi o que o Mexico fez

deco ® diz: parou o país e eles acabaram com tudo

deco ® diz: ou, nos tamos tudo exigindo mascaras nas pessoas que tão vindo fazer atendimento aqui no escirtorio

Lilis diz: ai meu deus

Lilis diz: valeu pelo toque Deco!!! é horrível saber da verdade, mas é bom pra se previnir

deco ® diz: pois é.

deco ® diz: até ontem, eu tava cagando e andando pra tudo isso

deco ® diz: mas quando os medicos me falaram fiquei que nem vc assim, em choque

Lilis diz: posso copiar essa nossa conveersa e mandar pra algumas pessoas?

deco ® diz: pode ? deve

deco ® diz: deve deve deve

Dra Lívia Aguiar
Fisioterapeuta especialista em Acupuntura”

Bem, este email está sendo repassado como uma corrente do pânico, e como, tendo partido provavelmente do sul/sudeste do país, já tenha vindo parar em minha caixa de entrada na Bahia, imagino que uma quantidade significativa de pessoas o tenham recebido e a maioria delas, imagino, resolvido trancafiar-sem em suas casas, usando luvas e máscaras (trocando-as de 2 em 2 horas). Gente, sejamos um pouco razoáveis quanto a isso tudo que não vejo acontecendo, mas vejo dizendo.

Fiquei realmente impactado ao saber que até mesmo membros do meu grupo de estudo estão pensando em abandonar nossa viagem, tão penosamente programada, para o Colóquio Internacional de Análise do Discurso (praticamente o evento mais importante da nossa área), apenas porque este terá lugar em São Carlos – SP. Enquanto isso, o Festival de Inverno Bahia tenta apressadamente lançar novas promoções para baratear o ingresso – chegando a esdruxulez de ceder 20% de desconto para quem provar ser funcionário público, mais uma espécie de bônus ou nova gratificação para aqueles que mamam em nossos impostos – visto que, conforme ouço dizer, o povo está com medo e está repensando se dará as caras esse ano no Festival. Afinal, até que ponto é necessário nos assustarmos e fazermos assustar ante toda polêmica e sensacionalismo que está sendo feito sobre o caso, tanto nos meios midiáticos quanto nos bastidores (como é o caso da veiculação por email da conversa de Msn acima)?

Se o dito pânico que percebo que começa a se instaurar é legítimo ou não, eu não sei dizer, mas meramente à título de lembrança, gostaria aqui de expor alguns fatos históricos: em 1976 no antigo Zaire (atual República Democrática do Congo) foi identificado pela primeira vez a febre hemorrágica ebola (FHE), causada pelo vírus ebola, que causou a epidemia que rapidamente se espalhou com 50 a 90% de mortalidade na República Democrática do Congo, Gabão, Uganda e Sudão, ocorrendo a segunda epidemia em 1979, quando 90% de suas vítimas africanas morreram. Começou-se então a dizer que o ebola mataria metade da África e que se o vírus por acaso chegasse às portas da Europa seria um desastre “mundial”, o que acarretou na tomada de medidas drásticas contra a emigração africana e importação de qualquer coisa que de lá viesse. Passou-se então algum mais de uma década, e em maio de 1995, a cidade de Mesengo, no Zaire, foi atingida pelo vírus, que matou mais de cem pessoas. Bastou para que o alerta de pânico fosse novamente aceso e as manchetes eram de que agora o ebola vinha com tudo.. mas ele não veio e a África continua lá inteirinha (ou assim pode-se dizer).

Ainda, estão lembrados da Influenza A (H5N1)? Ou, como costumávamos chamar, a gripe aviária? Embora tenha sido identificada pela primeira vez por volta de 1900 na Itália, a gripe do frango causou um surto realmente preocupante no ano de 2005, quando atingiu uma taxa de letalidade de 51,28%. Se ainda me lembro das manchetes e dos títulos dos trabalhos lançados à época, eram praticamente todos semelhantes ao "À espera da pandemia", publicado pela Scientific American Brasil, em Dezembro de 2005, por W. Waut Gibbs e Christine Soares, página 64.

Ora, claro que o simples fato de dois dos maiores surtos epidêmicos dos últimos tempos não terem, felizmente, correspondido ao prognóstico catastrófico a que foram submetidos não nos autoriza, de forma alguma, a concluir que este de agora não se converterá em real pandemia. Mas, daí a promulgar o pânico frente a números que embora pareçam alarmantes, especialmente dado a como são constantemente divulgados de forma enfática pela imprensa, não são sequer comparáveis com os números de casos de morte pela gripe comum e que são menores, segundo @felipevca, ao número de mortos pela dengue em Jequié – BA!, eu já considero algo um tanto quanto imprudente, pra não dizer insensato.

Enfim, eu não tenha como afirmar se a suposta conversa entre a fisioterapeuta e o seu colega da Unimed no msn aconteceu ou não de verdade, e se, nesse caso, tem realmente fundamento o teor da dita conversa, o que posso dizer é que não deixem, claro, de tomar os devidos cuidados, não se auto-medicando, se informando quanto às diferenças dos sintomas entre as gripes e procurando atendimento médico o quanto antes se você for azarado o suficiente para contrair o vírus porcino. Contudo, deixo aí meu apelo para que não se deixem levar pelo sentimento do medo e pelo sensacionalismo muitas vezes empregado por jornalistas que vêm nos números sangrentos a oportunidade do faz-me-rir fácil, e não acreditem em tudo que lêem ou que simplesmente caem no seu email.

*

Se quiser saber ainda mais, leia o ótimo post, retuitado pelo @El_Nau, sobre a "segunda onda" da Gripe Suína, do Gabriel Cunha (biólogo formado pela UNESP/RC e doutorando em Biologia Molecular pela UNIFESP).

Para conhecer a melhor postagem sobre a gripe, ao meu ver(ouvir), até hoje, ouça a gengibrada sensacional da carolinatc em 14/08/09: Gripe Suína.

E para mais informações sobre a gripe, inclusive como identificar os sintomas, acesse o Portal do Ministério da Saúde, com atualizações constantes sobre o panorama da epidemia no Brasil.

sábado, 1 de agosto de 2009

Surrogates

Surrogates Quando assisti ao trailer de “Surrogates”, ficção científica estrelada por Bruce Willis, e passei a conhecer a história da graphic novel homônima de  Robert Venditti, na qual o filme é baseado, fiquei maravilhado com a idéia futurística da HQ: no ano de 2054, os humanos podem conectar a mente a um robô humanóide (surrugate), o qual vivenciará o mundo exterior enquanto  os humanos permanecem intactos em suas casas, nas palavras do fabricante, “você pode viver sua vida sem limitações, e tornar-se quem você quiser ser, do conforto e segurança da sua própria casa, você pode finalmente viver a vida que sempre sonhou, sem nenhum risco ou perigo para você mesmo”. Evidentemente, descobre-se que viver através dos humanóides não é tão seguro assim, eis que, à medida que assassinatos vão acontecendo, Bruce Willis, um policial old-school, terá o papel de desvendar o mistério por trás dos tais surrogates [Eu, robot?].

Das várias referências possíveis de visualizar, desde Blade Runneer, Matrix a Second Life, o filme mostra-se bem interessante e com mais uma fuçada na net, dá pra perceber que as pessoas (ou ao menos os fãs de Sci-Fi) estão realmente empolgadas com o lançamento do longa, eu também fiquei, mas devo admitir que minhas expectativas foram significativamente diminuídas quando soube que a direção está a cargo de Jonathan Mostow, o responsável pelo abominável “Exterminador do Futuro 3”, e o roteiro por Michael Ferris e John Brancato, cuja “melhor” obra foi “Mulher-gato”. Ainda, convenhamos que o enredo do policial sozinho contra as máquinas salvando a humanidade  já está meio batido, e a lembrança que surge na mente de “The Happening” (promessa phoda do Shyamalan que resultou num fiasco)  ao ver-se a última cena mostrada no trailer não nos leva a um prognóstico tão positivo.

Será Surrogates mais um filme com ótima idéia que não dará certo? Só podemos esperar para que eu esteja errado.

Enfim, assistam ao trailer e resolvam por si mesmos: (O filme estréia no Brasil em 16 de outubro)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Vai-te, Poesia!

Vai-te, Poesia!

Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.

Vai-te, Poesia!

Não quero cantar.
Quero gritar!


José Gomes Ferreira

domingo, 12 de julho de 2009

©

Falemos hoje sobre Direito Autoral. Sinceramente, não entendo o porquê da grande polêmica e discussão em torno da Propriedade Intelectual e do chamado Direito do Autor. Pois além de existir (“brasileiramente” falando) uma mega legislação abrangente sobre o tema — Constituição, DUDH, Convenções internacionais,  Convenção Universal sobre o Direito de Autor, Acordos Comerciais, Leis especiais, Título próprio no Código Penal, etc — o texto da lei é claro e a norma, bem delimitada (pelo menos ao que me pareceu ante uma saudável consulta ao Pai e ao Ordenamento Jurídico).

Primeiro, devo explicar como surgiu meu interesse em falar sobre o tema: Convocado a postar no blog Grudiocorpo alguns e-books, ou livros virtuais, ou livros em pdf, sobre Análise do Discurso, questionei-me “E podemos?”, “E se apenas publicarmos o link apontando para o pdf armazenado em outro servidor?”. Ainda, a prisão temporária dos donos e a venda do PirateBay, a discussão no Omeletv, Nerdcast, Rapaduracast (e provavelmente outros casts) sobre a legalidade das legendas piratas, o súbito fechamento e feliz ressuscitamento do Legendas.tv, a morte da comunidade orkutiana Discografias, enfim, a discussão não é recente, e estando agora um pouco mais amadurecida nas mídias de comunicação em geral, vamos à ela.

Desmistificando logo de cara (ou apenas dando minha humilde opinião sobre)  a controvérsia [ia usar a palavra “altercação”, mas achei que iria pegar mal..]  sobre o assunto, começo explanando que tratarei aqui somente sobre direito patrimonial, visto que o Direito Autoral se divide em direito moral e patrimonial sobre a obra intelectual produzida pelo autor, que formam, assim, a sua propriedade intelectual. Então, tendo em vista que o direito patrimonial do autor, conforme art. 28 e 29 da Lei 9.610/98, dá a este “direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica; dependendo de sua  autorização prévia e expressa a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:” (e a lei dá lá seus exemplos) e ante a tipificação do crime de Violação de direito autoral, previsto no art. 184, caput e parágrafos seguintes, do Código Penal, segundo o qual, “violar direitos de autor e os que lhe são conexos” submete o sujeito à detenção (processado mediante queixa) e o mesmo crime praticado, resumidamente, com o intuito de lucro direito ou indireto sujeita-o à reclusão (mediante ação penal pública incondicionada), respondo os seguintes questionamentos já anteriormente esboçados:

  • Poderia eu publicar os tais e-books de Foucault no blog? Não, pois a razão de existirem e-books e outros tipos de reprodução eletrônica de obra literária que são distribuídas gratuitamente pela net é graças ao conceito de domínio público, eis que, no tocante à obras literárias, “os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil” (art. 41 da supracitada lei), de modo que eu estaria violando os direitos autorais da obra foucaultiana, que, pelas minhas contas (Foucault morreu em 1984), deverão cessar ainda em 2055. *Lembrando que a propriedade intelectual que cai em domínio público não envolve os direitos morais do autor sobre a obra, visto que estes são personalíssimos, irrenunciáveis, imprescritíveis, perpétuos, inalienáveis, impenhoráveis, inexpropriáveis, absolutos, etc etc;
  • E quanto à solução de postar o link cujo arquivo encontra-se em servidor alheio? Vedado também. Não configuraria reprodução, mas seria “comunicação ao público”, texto da lei: “ato mediante o qual a obra é colocada ao alcance do público, por qualquer meio ou procedimento e que não consista na distribuição de exemplares” (art. 5º, V c/c art .68 da lei em estudo). Morreu Bahia;
  • As legendas piratas produzidas pela galera massa [+D] do Legendas.tv são ilegais? Ilegalíssimas! Novamente, texto da lei: “Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como: IV - a tradução para qualquer idioma” No question about it;
  • Eu, que baixo filme, The Sopranos e lots of other stuff todos os dias nos torrents da vida, rede ed2k e tantos outros meios da internet, sou um criminoso? E por que não seria? Criminoso ladrão de galinha, mas sim, ainda criminoso! Acontece que segundo uma interpretação sistemática do nosso ordenamento jurídico, configuraria a  violação (termo presente no tipo do Código Penal) a reprodução indevida, ou seja, “a cópia de um ou vários exemplares de uma obra literária, artística ou científica ou de um fonograma, de qualquer forma tangível, incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporário por meios eletrônicos” (art. 5º, VI), inclusive “a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero” (art. 29, IX). Caso é que este crime de Violação de direito autoral, assim cometido sem intuito de lucro, com escopo apenas no divertimento/entretenimento pessoal do cara que baixou, só é processado mediante queixa, ou seja, por ação penal privada, ou seja², o estúdio, o diretor ou os produtores, que são quem, a priori, detêm os direitos sobre a obra, em conhecer que eu baixei o filme, série, etc, e no interesse de minha pessoal condenação, teria que ingressar com uma ação criminal diretamente contra mim, que, por minha vez, ficaria submetido apenas às penas de detenção de 3 meses a 1 ano, ou multa. Embora seja improbabilíssima, há sempre a possibilidade.
  • YouTube? Também não tem jeito. É só ler a lei: “Art. 29. Depende de autorização (…): VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica, mediante: i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados”;
  • Será ainda preciso perguntar de Piratebay? .. Acho que é questão vencida.

Mas vejam bem: não vão pensar em mim como o Gleyson legalista que está sempre a favor da lei e fim de papo, apenas exponho as coisas como elas são. Agora: é justo que tudo seja tido como pirataria? É inteligente continuar com essa cegueira das associações defensoras da propriedade intelectual ante o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação e a evolução por que passa os modos como se processa a informação hoje em dia? É mesmo razoável que continuemos a tratar o consumidor comum como um criminoso por uma prática, que embora ilegal, considero totalmente legítima (no sentido amplo do termo). Ora, o que esperar de um espectador que, v.g., é apresentado a uma produção televisiva, a qual, depois de torná-lo fã, é subitamente tirada do ar a púrrio critério de empresários e produtores que trabalham apenas pelo dinheiro, sem nunca cogitar pôr a arte em primeiro plano? Espero ansiosamente pela sexta e última temporada de LOST na ABC, enquanto que a exibição da série na Globo em sua quinta temporada está prevista para janeiro do ano que vem. As empresas de comunicação, com raciocínio retrogrado, trabalham para manter o modelo clássico de distribuição da cultura e da arte em mídia; contudo, não vejo como sobreviverá, os tempos são outros.

Radiohead vendeu o seu último álbum lançado lá no longínquo ano de 2007 com preço inicial de $0,00, e mesmo assim fizeram dinheiro (e muito!). Isso é possuir fãs, quem é fã, é fã por um motivo, ele dificilmente desrespeitará o direito autoral de quem realmente aprecia. O “Sou” de Camelo eu comecei baixando uma, duas músicas, depois baixei as 12 faixas que saíram antes do lançamento numa mp3 contínua, quando postaram numa qualidade melhor, baixei novamente e escutei, mesmo assim, 2 dias depois do lançamento, chagava meu disco bonitinho original que comprei na pré-venda. A Apple já vende música com sucesso e lucro pelo iTunes, quase todas as grandes redes de tv americana e britânica já disponibilizam sem medo seus shows e séries em stream para serem assistidos pela internet a qualquer hora. Até a forma como se lê notícia está mudando, com o twitter dando informação 2 segundos a frente do fato, quem quer mais ler jornal impresso com notícia de ontem? Como eu disse, os tempos são outros. Diante da atual conjuntura, cujas circunstancias não apontei um décimo, é sensato pensar que é necessário a reciclagem da forma como vemos o direito autoral e a conseqüente mudança da lei? Eu diria que sim.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

.59

louploup_by_gloria_aniela
Ter muito e de tudo

Eu quero todo

O mundo

Ser a natureza

Fria e bruta

Rodar o planeta

Conhecer tudo que cheira

Vida nossa, minha e tua


Ávido de novidades sou

Afoito sou inquieto

As ânsias não se acabam

Restam-me incompleto

Mesmo quando paro

Estou em movimento

Sôfrego impaciente

Sinto o tempo lento


Eu quero de tudo um muito

Seu amor fecundo

O quero imundo

Eu quero todo

O mundo

Fotografia do portfólio de Gloria Aniela

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O Futuro Menos-que-perfeito

Watchmen.11.de.12.HQ.BR.23ABR05.GibiHQ.pdf-033 Tranqüilo, tranqüilo. Calma no Brasil! Sossega leoa, sossega a “piriquitita”, como diz Regolino. Olha a afobação. Pra quê tanta pressa? Por que tanta previsão? O mundo continua aí, como a sua vida, não vão fugir. Eu estou aqui. Olha pra mim. Pára um pouco.

Opa, pare aí um pouco eu por favor, do contrário ter-se-á este post aqui de ser reescrito em verso desse jeito. Na ânsia de querer falar o que estou para falar, também eu acabei me antecipando e quase coloco a carroça à frente dos burros, como diria a geração de 60. Bem.. passado o nonsense, eis a situação:

Todos aí preocupados com o futuro, não é mesmo? (Sim, leitor, estou falando contigo). Todos pensando no fim da faculdade, no concurso que têm que estudar para, na pós-graduação mais rápida que puderem fazer, na ruma de dinheiro que quererão ganhar para casar com os respectivos pretendentes (ou não), no trabalho por vir, na vida de adulto que baterá à porta. Logo, é preciso pensar e conjecturar e prever e antever as opções, pois o que nos aguardará o futuro, não é verdade?

Sinceramente, estou cansado dos comedidos, dos preocupados com a prova de hoje a 8 dias, dos que, antes de acabar o carnaval, compram a festa de São João, dos que antecipam. Querem antecipar até tua fala, teu pensamento – “já sei o que vai dizer”, “sei o que deve estar pensando” – ora, se já sabe, então não percamos tempo dialogando, faça você um monólogo com a tua e a minha parte e eu quedo aqui te escutando. Vejo as pessoas pensando tão a frente de mim, tão preocupadas, tão sem tempo para ficar e conversar, que às vezes penso se não estaria eu sendo imprudente em não lembrar do que acontecerá no dia depois de depois de amanhã.

Talvez seja realmente imprudência minha, talvez este texto de hoje seja um reflexo do meu caráter procrastinador (o que sou assumidamente), mas fato: enfastiam-me aqueles que fazem tantos planos a longo prazo, afinal, o que há de tão especial assim nesse futuro? Por que o futuro contém tanta felicidade? Não poderíamos, por acaso, sermos felizes agora? Projetam-se tanto deles mesmos no futuro que parece que o presente é um eterno processo de feitos, feitos que devem ser comedidos e precisamente calculados para alcançarem um propósito maior, que está sempre à frente, um porvir (ou devir, ê lelê Nietzsche) que garantirá a tal felicidade vindoura.

Não parece-lhes certo que talvez a felicidade possa estar garantida no momento, naquele específico momento que você ria com um amigo, que você beijava (ou pecava com) sua namorada(o), que eu e você brindávamos à mesa de um bar. Confio no que tenho, não no que terei ou no que me aguarda, até por que o tempo pode transformar tudo que tenho em nada, como numa ilusão. De modo que, caso um dia decidirem parar um pouco a rotina de seus importantes afazeres de planejamento futurístico, liguem para mim e paguem-me um cowboy [risos.. brincadeirinha], sério: apenas façam alguma coisa de agradável, alguma coisa que há muito os prazos impediam que o fizesse. Sei lá, isto aqui não é auto-ajuda: Reproduzam a espécie, meus filhos! Desfrute seu presente.

Agora, por favor, não pensem que isto aqui é filosofia nova, saibam que é século XXI e tudo já foi, de algum modo, pensado. É 2009, e como repensei este assunto, reproduzo-o aqui com as minhas palavras e minha humilde opinião sobre o caso. Então, ladies and gentlemen, com vocês, meu preceptor que dispensa apresentações, Arthur Schopenhauer:

“Planos e preocupações com o futuro, ou também a saudade do passado, ocupam-nos de modo tão contí­nuo e duradouro, que o presente quase sempre perde a sua importância e é negligenciado; no entanto, somente o presente é seguro, enquanto o futuro e mesmo o passado quase sempre são diferentes daquilo que pensamos. Sendo assim, iludimo-nos uma vida inteira”.

Desejo aditar ainda que desencorajo percepções carpe diem da visão que expus, pelo menos não como o da acepção da escola árcade do final do século XVIII, pois quem vive em demasia no presente são os levianos/ inconseqüentes/ irresponsáveis/ como queiram. Só o que eu peço aqui é um pouco de imprudência, até um pouco da saudável loucura momentânea, ou mesmo a simples "colheita do dia" de Horácio, uma inocente idéia como esta: “Gleyson, vamos beber hoje até lamber o asfalto?” Eu diria: “Por favor, caro amigo, por favor”.


P.S.: Pra terminar, saca só a maluquice (ou genialidade, se preferirem): “A maior sabedoria é ter o presente como objeto maior da vida, pois ele é a única realidade, tudo o mais é imaginação. Mas poderíamos também considerar isso nossa maior maluquice, pois aquilo que existe só por um instante e some como sonho não merece um esforço sério.” (SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como Vontade e Representação).

quinta-feira, 19 de março de 2009

O que será?

scummy_by_gloria_aniela
Sabe quando, na madrugada (ou numa hora de introversão qualquer), dá aquela vontade de comer algo? Mas não qualquer algo, algo mais, algo melhor do que o que tivemos no café, almoço, lanche ou jantar. Algo que não sabemos bem o que é, só sabemos o que não é.

Pois bem: Começou há mais ou menos três semanas (provavelmente quando iniciaram-se as aulas) esta sensação esdrúxulamente fastidiosa, e não é apenas algo momentâneo, nem relacionado a comida. É sobre um algo maior, uma coisa mais intensa, que me deixa inquieto, que me faz twittar como um obssessivo-compulsivo, que me faz cantar mais alto trechos de músicas escrotas para chamar maior número de atenções.

Sinto que a minha vida, afinal, não tem tanto a oferecer, pelo menos não do jeito que eu a levo hoje. Logo eu, que sempre fui um entusiasta da vida, que a levava como em uma apoteose dedicada a ela e a mim mesmo (ai, quão classudo é meu ego!). Acordo, checo minha agenda, faço a lista das tarefas mais importantes que não deveriam deixar de ser feitas e, quando menos percebo, estou encravado por mais um dia na rotina. E quando, à noite, o professor não vem, enquanto espero pela aula seguinte, penso… O que há mais para se viver? O que estou perdendo? Como este dia poderia ter sido diferente?

Sei, muito provavelmente estou apenas divagando sobre situações hipotéticas de vidas alternativas que não vão dizer nada a ninguém, sobretudo a mim. E ainda dirão: “Mas afinal de contas, o que você queria? Ser o Batman, um espião da CIA?”

Não, não isso. Só sei o que não quero. Só sei o que não sou (baseado no que já experimentei e que já vi). Para esse ponto parafraseio a resposta de uma guria de 8 anos chamada Marina, prima do Jurandir Filho, que no RapaduraCast 82, perguntada pelo Juras se O Rei Leão era o melhor filme do mundo, disse: “Eu não assisti [a] todos”. A Marina, aos 8 anos de ingênua-idade, não tinha assistido à todos os filmes do mundo para saber se O Rei Leão era o melhor. Eu, aos dois patos na lagoa, já vi muitos filmes, vivi o considerado suficiente para resolver o que se vai fazer da vida e amei “por volta” de três mulheres [sic: meninas].. ainda assim, não consigo responder à pergunta que me inquieta.

Enfim, indo assistir às esparsas aulas do viii semestre – como twittei, cada vez menos interessantes – perdido em meio aos numerosos processos do estágio, procrastinando o projeto da iniciação científica, que parece nunca deixar de ser “iniciação”, e bebendo cerveja após cerveja nos fins de semana, eu vou.. sempre alegre e tranqüilo. Mas se caso um dia eu parecer alegre e tranqüilo demais, não se engane, meu coração está em chamas (e está à procura do que sabe-se o que não é, este algo não-comestível infernal).

Ê lelê.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

.46

precisas sentir

(distinguir)

teu tato é mais especial

deixa claro tua pele

waterhouse_the_awakening_of_adonis

já eu

sou mais olfato

embriagado pelo aroma

que de teus poros

verve

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Filmes assistidos em 2009

Última atualização: 02.08.2009

Toda nudez será castigada ♣ Loucura
Queime depois de ler ♣ Massa
O dia em que a terra parou ♣ Legal
Piaf - Um hino ao amor (La vie en rose) ♣ Fodástico
Speed Racer ♣ Top
El Dorado ♣ Massa
Io ballo da sola (Stealing Beauty) ♣ Bom
Crepúsculo (Twilight) ♣ Bizarro
Tropical Thunder ♣ Bom
O Exterminador do Futuro (Terminator)
O Exterminador do Futuro 2 (Terminator 2)
Obrigado por fumar
O Exterminador do Futuro 3 (Terminator 3)
O Quinto Elemento
Vicky Cristina Barcelona
Vicky Cristina Barcelona ♣ Fodástico
Eu, Robô
House of bunnies ♣ Whatever
Watchmen ♣ Fodástico
The Dark Knight
Man of Fire
300
Boca de Ouro ♣ Massa
Aladdin
Esqueceram de mim
Scarface
Bolt ♣ Legal
X-Men Origins: Wolverine ♣ Fraco
The Warriors ♣ Sensacional
Che – Part one: El Argentino ♣ Massa
Che – Part two: Guerrilla ♣ Massa
Star Wars IV: Uma Nova Esperança ♣ Massa
Encantada ♣ Melhor a cada vez
Lord of the Flies ♣ Phoda
Bonitinha, mas Ordinária ♣ Sensacional
Eu sei que vou te amar ♣ Fodástico
Claro ♣ Uma bosta / Uma merda phoda
Passengers ♣ Marrom
Cidadão Kane ♣ Rosebud
Dawn of the Dead ♣ Massa
A mulher invisível ♣ Prosa
Only you ♣ Fantástico
Star Wars V: O Império Contra-Ataca ♣ Muito massa
Star Wars VI: O Retorno dos Jedi ♣ Legal
Star Wars I: A Ameaça Fantasma ♣ Whatever
Star Wars II: O Ataque dos Clones ♣ Uma bosta

domingo, 18 de janeiro de 2009

Indignàre

Meu ser indignado causa assombro e surpreende muita gente. Choldra Ignóbil! A falta de indignação nas pessoas é o que deveria causar espanto.

MrBlond2 (2)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Caderno de Cinema 2008

Em todas as férias é a mesma coisa, minha cinefilia adolesce e o pesquisatório, gasto em frente ao IMDB, Wikipédia, CCR, PirateBay, etc, divide meu tempo em meio a fitas, pôsteres, podcasts, DVDs, Moviecom, e, é claro, listas! Deixo, então, sem mais falatório, a lista de quase todos os filmes a que assisti em 2008, digo quase porque as anotações para essa lista foram feitas mediante um denso exercício de memória, visto que raras eram as vezes em que eu anotava o título logo após ter visto a película.

Filmes assistidos - 2008:

01. O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring) [Top]
02. O Senhor dos Anéis - As Duas Torres (The Lord of the Rings: The Two Towers) [Top]
03. O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King) [Top]
04. Ben-hur
05. Os Incríveis [Muito massa]
06. Sunshine - Alerta Solar [Uma bosta]
07. Beowulf [Marrom]
08. Vanilla Sky [Bom]
09. Calígula [Uma indignidade]
10. 11 homens e um segredo (Ocean´s eleven) [Massa]
11. My summer of love [Viagem]
12. Spartacus [Muito bom]
13. Duro de matar (Die Hard) [Filmásso]
14. Duro de matar 2 (Die Hard 2) [Massa tb]
15. Encantada (Enchated) [Um absurdo! De bom]
16. Xeque-mate (Lucky Number Sleven) [Sensacional]
17. Desejo e Reparação (Atonement) [Muito bom]
18. PS: Eu te amo (PS: I love you) [Meeiro] {Cinema}
19. Piratas do Caribe - No fim do mundo (Pirates of the Caribbean: At World's end) [Massa]
20. Transformers [Escalafodético]
21. Teen Wolf (O garoto do futuro) [Bizarro]
22. Alice no país das maravilhas [Sempre maravilhoso]
23. O Julgamento do Diabo (Shortcut to happiness)
23. O Gangster (American Gangster) [Filmaço] {Cinema}
24. Sangue Negro (There will be blood) [Massa]
25. Juno [Filmásso]
26. Conduta de risco (Michael Clayton) [Perda de tempo]
27. Reprise (Reprise) [Doido]
28. Cidade dos homens [Legal]
29. Janela Secreta (Secret Window) [Legal]
30. Frida [Legal]
31. Meu nome não é Johnny [Massa] {Cinema}
32. Ed Wood [Bom]
33. Onde os fracos não têm vez (No Country for old man) [Massa] {Cinema}
34. A viagem de Chihiro [Sensacional!] {Reassisti}
35. Across the Universe [Poderia ser melhor]
36. Reprise [Louco]
37. Elephant [Decepcionou]
38. December boys [Massa]
39. O Rei Leão [Top] {Reassisti}
40. Mad Max - Além da Cúpula do Trovão [Fantástico]
41. Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull [É] {Cinema}
42. O homem-elefante [Viagem]
43. Sicko [Sensacional]
44. Fahrenheit 9/11 [Phoda] {Reassisti}
45. O Guia do mochileiro das galáxias [péssimo]
46. Alta-fidelidade [Massa]
47. Be kind rewind [Legalzinho]
48. The nightmare before christmas [Massa]
49. Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Eternal sunshine of the spotless mind) [Fodástico]
50. The forbidden kingdon [Legal]
51. Being John Malkovich [Viagem/Massa]
52. Intorelable Cruelty
53. Wall+e [Requetebueno] {Cinema}
54. Super high me [Legal]
55. Não somos anjos [Legal]
56. You Don’t Mess With The Zohan [Sensacional]
57. Scent of a Woman [Filmásso]
58. Dona Flor E Seus Dois Maridos [Sensacional] {Reassisti}
59. Breakfast at Tiffanys' [Filmásso]
60. Cabra-cega [Sensacional]
61. Smart People [Prosinha]
62. Hancock [Fodástico]
63. True Romance [Fodástico]
64. The Tracey Fragments [Totalmente insano]
65. Amar... Não Tem Preço (Juno) [Mais legal toda vez que revejo]
66. Zohan - o agente bom de corte [Fodástico]
67. Hors de Prix [Top]
68. Elizabeth [Massa]
69. Elizabeth: A era de ouro [Massa]
70. An american crime
71. Mary Poppins [Supercalifragiolisticexpialidoucious!]
72. Singin in the rain {Reassisti} [Top]
73. John Q [Massa]
74. Mafia [É]
75. The Sound of music [Fodástico]
76. Pulp Fiction {Reassisti} [Top]
77. Hellboy 2 [É]
78. Beetjuice [Massa]
79. The Happening [É]
80. Cloverfield [Filmásso]
81. A viagem de Chihiro [Fodástico]
82. The dark knight [Fodástico]
83. Iron Man [PQP!]
84. The love guru [Legalzinho]
85. Um dia de cão (Dog Day Afternoon) [Phoda!]
86. 21 [Massa]
87. Yella [Loucura]
88. Lolita [Kubrick forever!]
89. Rec [Quase me caguei..]
90. The Shawshank Redemption [Filmásso]
91. Dois Perdidos numa noite suja [Phoda!]
92. Camille Caludel [Uau..]
93. Ballet Shoes [Legal]
94. Bubba Ho-Tep [Apenas a idéia é boa]
95. Ensemble, C'est Tout [Fraquinho]
96. The Other Boylen Girl [De fuder]
97. Deus e o Diabo na terra do sol [Fantástico!]


De antemão, segue o TOP 10 dos filmes que vi em 2008 (com data de lançamento original naquele ano):
  1. Juno
  2. Sangue Negro (There will be blood)
  3. Amar... Não Tem Preço (Hors de Prix)
  4. Onde os fracos não têm vez (No Country for Old Man)
  5. Wall-E
  6. Homem de Ferro (Iron Man)
  7. Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight)
  8. REC
  9. Cloverfield
  10. Sicko

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Periódicos: poesias anteriores

O nosso mundo
Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno
Poisando em ti o meu olhar eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos...
Os meus sonhos agora são mais vagos
O teu olhar em mim, hoje é mais terno...
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e presságios!
A Vida, meu amor, quero vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!
Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor! ... As nossas bocas juntas!...


Florbela Espanca

*

3:30 A.M. Conversation
at 3:30 a.m. in the morning
a door opens
and feet come down the hall
moving a body,
and there is a knock
and you put down your beer
and answer.
god damn it, she says,
dont' you ever sleep?
and she walks in
her hair in curlers
and herself in a silk robe
covered with rabbits and birds
and she has brought her own bottle
to which you splendidly add
2 glasses;
her husband, she says, is in Florida
and the sister sends her money and dresses and she has been looking for a job
for 32 days.
you tell her
you are a jockey's agent and a
writer of jazz and love songs,
and after a couple of drinks
she doesn't bother to cover
her legs
with the edge of the robe
that keeps falling away.
they are not bad legs at all,
in fact, very good legs,
and soon your are kissing a
head full of curlers.
and the rabbits are beginning
to wink, and Florida is a long way
away, and she says we are not strangers
really because shes has seem me
in the hall.
and finally
there is very little
to say.

TRADUÇÃO:

Conversa às Três e Meia da Madrugada
às três e meia da madrugada
a porta se abre
e há passos na entrada
que trazem um corpo,
e uma batida
e você repousa a cerveja
e vai ver quem é.

com os diabos, ela diz,
você não dorme nunca?
e ela entra
com o cabelo nos rolinhos
e num robe de seda
estampado de coelho e passarinho
e ela trouxe a sua própria garrafa
à qual você gloriosamente acrescenta
2 copos;
o marido, ela diz, está na Flórida
e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela,
e ela tem estado procurando emprego
nos últimos 32 dias.
você diz a ela
que é um cambista de jóquei e
um compositor de jazz e canções românticas,
e depois de uns dois copos
ela não se preocupa com cobrir
as pernas
com a beira do robe
que está sempre caindo.
não são pernas nada feias,
na verdade são pernas ótimas,
e logo você está beijando uma
cabeça cheia de rolinhos,
e os coelhos estão começando a
piscar, e a Flórida é longe, e ela diz
que não somos realmente estranhos
porque ela tem me visto na entrada.
e finalmente
há muito pouca coisa
para dizer.

bukowski
Charles Bukowski

**

Morte
Terna como esta manhã
Fria e mansa como a água
Era triste, pois que era lúgubre
Era certa, pois nunca errava
E era bonita sua chegada
Na densa escuridão
Vinha como curvada

Amedrontava
Mas não punha susto
Tinha olhos, ou não tinha
Tinha mãos, que não senti
Mais não sei
Nada vi
Fui coberto de interiores e uma estranha sensação

Senti pesado o coração
Afundar-se em mim
Então eu a vislumbrei
Não com os olhos
Com a alma ou com o que quer que seja
Sem resistir
Deixei-me carregar no cardo
Deixei-me sucumbir
Como num forte amor
E fiquei por muito tempo assim
Na minha infinita paz
No seu imenso langor
grainn
[protopoesia]

**

Amor que morre
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos pra partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há de vir!

DFlorbela Espanca (Reliquiae, 1931)

**

A cacimba
Tá vendo aquela cacimba
lá na bêra do riacho,
im riba da ribanceira,
qui fica, assim, pru dibáxo
de um pé de tamarinêra.
Pois, um magóte de môça
quage toda manhanzinha,
foima, assim, aquela tuia,
na bêra da cacimbinha
prá tumar banho de cuia.
Eu não sei pru quê razão,
as águas dessa nacente,
as águas que ali se vê,
tem um gosto diferente
das cacimbas de bêbê...
As águas da cacimbinha
tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça...
Tem um gostim do suó
do suvaco déssas môça...
Quando eu vejo éssa cacimba,
qui inspio a minha cara
e a cara torno a inspiá,
naquelas águas quiláras,
Pego logo a desejá...
... Desejo, prá quê negá?
Desejo ser um caçote,
cum dois óio dêsse tamanho
Prá ver aquele magóte
de môça tumando banho!

DZé da Luz (1904-1965, Arcoverde-PE)

**

Elle est retrouvée!
Quoi? L' éternité.
C est la mar mêlée
Au soleil

Mon âme éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.

Donc tu te dégages
Des humains suffrages,
Des communs élans!
Tu voles selon...

— Jamais l' ésperance.
Pas d' oríetur.
Science et patience,
Le suplice est sur.

Plus de lendemain,
Braises de satin,
Votre ardeur
C' ést le devoir.

Elle est retrouvée!
— Quoi? — L' éternité.
C' est la mer mêlée
Au soleil.
Tradução de Claudio Daniel:
Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Dj.-n. a. rimbaud (1871)

**

Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.
Dv. maiakovski (1927)

**

deus
          algum
                      indu
                              ogum
                                          vishnu
precisa
                       da tua prece

tua pressa
                       pessoa
só teu pulso
                              acelera

você padece
padecer
                       te resta

tudo
          um belo dia
                                          desaparece

leminskipolonaises, p. leminski

**

Sonhos

Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir…
Que se sonhasse a chorar…

Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca… um lamento…

Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte

Despedaçar esses laços!…
…É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!


Florbela Espanca (in Trocando Olhares - 12/08/1916)

**

Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)


Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)

**

maldito
o que não deixa cantar
o canto é fraco

maldito
o que não deixa cantar
o canto é forte

maldito
o que não deixa cantar
o canto gera outro canto

maldito
o que não deixa cantar
o canto nunca deixa de cantar

D
Paulo Leminski

*

VII
(em Manhã em Cem sonetos de amor)

"Vendrás conmigo" —dije— sin que nadie supiera
dónde y cómo latía mi estado doloroso,
y para mí no había clavel ni barcarola,
nada sino una herida por el amor abierta.

Repetí: ven conmigo, como si me muriera,
y nadie vio en mi boca la luna que sangraba,
nadie vio aquella sangre que subía al silencio.
Oh amor ahora olvidemos la estrella con espinas!

Por eso cuando oí que tu voz repetía
"Vendrás conmigo" —fue como si desataras
dolor, amor, la furia del vino encarcelado

que desde su bodega sumergida subiera
y otra vez en mi boca sentí un sabor de llama,
de sangre y de claveles, de piedra y quemadura.

Tradución:

"VIRÁS comigo", disse, sem que ninguém soubesse
onde e como pulsava meu estado doloroso
e para mim não havia cravo nem barcarola,
nada senão uma ferida pelo amor aberta

Repeti: vem comigo, como se morresse,
e ninguém viu em minha boca a lua que sangrava,
ninguém viu aquele sangue que subia ao silêncio.
Oh amor, agora esqueçamos a estrela com pontas!

Por isso quando ouvi que tua voz repetia
"Virás comigo", foi como se desatasses
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado

que de sua cantina submergida soubesse
e outra vez em minha boca senti um sabor de chama,
de sangue e cravos, de pedra e queimadura.

Mário
Pablo Neruda

**

Canção do amor imprevisto

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.

Mário
Mário Quintana

**

.41

Por que insistes em querer achar a mentira?
Se tão somente confissões eu te remeto.
Que tanto presumes que faço da vida?
Quando inda fere-me na mão a ponto do teu seio.
Por que me maltratas, quando não me assassinas?
De certo, desentedia-te com meu aperreio.
Queres, pois, minha espuma, meu desassossego
E assim mesmo, receio, por essa alma que me paralisa.
Quando resolveres ter novo plano
De talvez fazer muito de mim
Quem sabe amarás sem espanto
Quem sabe tu vens de novo aqui.
Para cometermos o mesmo lerdo engano
De nos ferir por debaixo dos panos.

**

Cântico

Não, tu não és um sonho, és a existência
Tens carne, tens fadiga e tens pudor
No calmo peito teu. Tu és a estrela
Sem nome, és a morada, és a cantiga
Do amor, és luz, és lírio, namorada!
Tu és todo o esplendor, o último claustro
Da elegia sem fim, anjo! mendiga
Do triste verso meu. Ah, fosses nunca
Minha, fosses a idéia, o sentimento
Em mim, fosses a aurora, o céu da aurora
Ausente, amiga, eu não te perderia!
Amada! onde te deixas, onde vagas
Entre as vagas flores? e por que dormes
Entre os vagos rumores do mar? Tu
Primeira, última, trágica, esquecida
De mim! És linda, és alta! és sorridente
És como o verde do trigal maduro
Teus olhos têm a cor do firmamento
Céu castanho da tarde – são teus olhos!
Teu passo arrasta a doce poesia
Do amor! prende o poema em forma e cor
No espaço; para o astro do poente
És o levante, és o Sol! eu sou o giro
O giro, o girassol. És a soberba
Também, a jovem rosa purpurina
És rápida também, como a andorinha!
Doçura! lisa e murmurante... a água
Que corre no chão morno da montanha
És tu; tens muitas emoções; o pássaro
Do trópico inventou teu meigo nome
Duas vezes, de súbito encantado!
Dona do meu amor! sede constante
Do meu corpo de homem! melodia
Da minha poesia extraordinária!
Por que me arrastas? Por que me fascinas?
Por que me ensinas a morrer? teu sonho
Me leva o verso à sombra e à claridade.
Sou teu irmão, és minha irmã; padeço
De ti, sou teu cantor humilde e terno
Teu silêncio, teu trêmulo sossego
Triste, onde se arrastam nostalgias
Melancólicas, ah, tão melancólicas...
Amiga, entra de súbito, pergunta
Por mim, se eu continuo a amar-te; ri
Esse riso que é tosse de ternura
Carrega-me em teu seio, louca! sinto
A infância em teu amor! cresçamos juntos
Como se fora agora, e sempre; demos
Nomes graves às coisas impossíveis
Recriemos a mágica do sonho
Lânguida! ah, que o destino nada pode
Contra esse teu langor; és o penúltimo
Lirismo! encosta a tua face fresca
Sobre o meu peito nu, ouves? é cedo
Quanto mais tarde for, mais cedo! a calma
É o último suspiro da poesia
O mar é nosso, a rosa tem seu nome
E recende mais pura ao seu chamado.
Julieta! Carlota! Beatriz!
Oh, deixa-me brincar, que te amo tanto
Que se não brinco, choro, e desse pranto
Desse pranto sem dor, que é o único amigo
Das horas más em que não estás comigo.

D
Vinícius de Moraes

**

Poema De Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos , raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Carlos Drummond de Andrade

( Antologia da Nova Poesia Brasileira
J.G . de Araujo Jorge - 1a ed. 1948 )

**

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...


Mário Quintana

**

Poema da Agressividade

Eu queria querer você sem chance
Sem conseguir te evitar por pudor,
Te querer tal e qual um animal
Que precisa e não abre mão de precisar.
Te amar não basta,
Eu queria te atacar:
Ser muito mais instinto
Que mero desejo...
Ser menos humana,
Cultural.
Queria ser natural
E desumanamente sincera.


Mônica Buarque

**

Eu sei! Eu sei!
Se sair daqui, o rio me engolirá...
É o meu destino: hoje devo morrer!
Mas não, a força de vontade pode superar tudo
Há obstáculos, eu reconheço
Não quero sair.
Se tenho que morrer, será nesta caverna.

As balas, o que podem as balas fazer comigo
se meu destino é morrer afogado? Mas vou
vencer o destino. O destino pode ser
conseguido pela força de vontade.

Morrer, sim, mas crivado de
balas, destroçado pelas baionetas, se não, não. Afogado não...
Uma recordação mais duradoura do que meu nome
É lutar, morrer lutando.

che
Ernesto Guevara (17 de janeiro de 1947)

**

O inútil luar

É noite. A Lua, ardente e terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia . . .
Dormem as sombras na alameda
Ao longo do ermo Piabanha.
E dele um ruído vem de seda
Que se amarfanha . . .
No largo, sob os jambolanos,
Procuro a sombra embalsamada.
(Noite, consolo dos humanos!
Sombra sagrada!)
Um velho senta-se ao meu lado.
Medita. Há no seu rosto uma ânsia . . .
Talvez se lembre aqui, coitado!
De sua infância.
Ei-lo que saca de um papel . . .
Dobra-o direito, ajusta as pontas,
E pensativo, a olhar o anel,
Faz umas contas . . .
Com outro moço que se cala,
Fala um de compleição raquítica.
Presto atenção ao que ele fala:
— É de política.
Adiante uma senhora magra,
Em ampla charpa que a modela,
Lembra uma estátua de Tanagra.
E, junto dela,
Outra a entretém, a conversar:
— "Mamãe não avisou se vinha.
Se ela vier, mando matar
Uma galinha."
E embalde a Lua, ardente e terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia . . .

D
Manuel Bandeira

**

Soneto de Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

D
Vinícius de Moraes

**

Parada Cardíaca

Essa minha secura

essa falta de sentimento

não tem ninguém que segure

vem de dentro

Vem da zona escura

donde vem o que sinto

sinto muito

sentir é muito lento

D
Paulo Leminski

**

Amiga, no te mueras

Amiga, no te mueras.
Óyeme estas palabras que me salen ardiendo,
y que nadie diría si yo no las dijera.
Amiga, no te mueras.
Yo soy el que te espera en la estrellada noche.
El que bajo el sangriento sol poniente te espera.
Miro caer los frutos en la tierra sombría.
Miro bailar las gotas del rocío en las hierbas.
En la noche al espeso perfume de las rosas,
cuando danza la ronda de las sombras inmensas.
Bajo el cielo del Sur, el que te espera cuando
el aire de la tarde como una boca besa.
Amiga, no te mueras.
Yo soy el que cortó las guirnaldas rebeldes
para el lecho selvático fragante a sol y a selva.
El que trajo en los brazos jacintos amarillos.
Y rosas desgarradas. Y amapolas sangrientas.
El que cruzó los brazos por esperarte, ahora.
El que quebró sus arcos. El que dobló sus flechas.
Yo soy el que en los labios guarda sabor de uvas.
Racimos refregados. Mordeduras bermejas.
El que te llama desde las llanuras brotadas.
Yo soy el que en la hora del amor te desea.
El aire de la tarde cimbra las ramas altas.
Ebrio, mi corazón. bajo Dios, tambalea.
El río desatado rompe a llorar y a veces
se adelgaza su voz y se hace pura y trémula.
Retumba, atardecida, la queja azul del agua.
Amiga, no te mueras!
Yo soy el que te espera en la estrellada noche,
sobre las playas áureas, sobre las rubias eras.
El que cortó jacintos para tu lecho, y rosas.
Tendido entre las hierbas yo soy el que te espera!

D
Pablo Neruda

**

A volta da mulher morena

Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena
Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo
E estão me despertando de noite.
Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena
Eles são maduros e úmidos e inquietos
E sabem tirar a volúpia de todos os frios.
Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma
Cortai os peitos da mulher morena
Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono
E trazem cores tristes para os meus olhos.
Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes
Traze-me para o contato casto de tuas vestes
Salva-me dos braços da mulher morena
Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim
São como raízes recendendo resina fresca
São como dois silêncios que me paralisam.
Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena
Livra-me do seu ventre como a campina matinal
Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria.
Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena
Reza para murcharem as pernas da mulher morena
Reza para a velhice roer dentro da mulher morena
Que a mulher morena está encurvando os meus ombros
E está trazendo tosse má para o meu peito.
Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus últimos cantos
Dai (...) à mulher morena!

D
Vinícius de Moraes

**

enchantagem

de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima

de tanto fazer tudo

parecer perfeito

você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito

pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito

que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar

tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade

o pau na vida
o vinagre
vinho suave

pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade

D
Paulo Leminski

**

Tome, Dr., esta tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!

D
Augusto dos Anjos

**

Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

D
Cora Coralina

**

Nunca havia imaginado

Sem amor emprego trabalho

Sem aula

Namorada

A falta que me faz

O PC

**

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei ...
São tantos os que me amaram !
São tantos os que eu amei !
Mas tu - que rude contraste !
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nesta alma, ficaste,
De todos os que eu amei.

D
Paulo Setúbal

**

poesia vã

deixe de sândice
que vão de poesia

em poesia não existe

**

Erro

Erro é teu. Amei-te um dia
Com esse amor passageiro
Que nasce na fantasia
E não chega ao coração;
Nem foi amor, foi apenas
Uma ligeira impressão;
Um querer indiferente,
Em tua presença vivo,
Morto, se estavas ausente.
E se ora me vês esquivo,
Se, como outrora, não vês
Meus incensos de poeta
Ir eu queimar a teus pés,
É que, — como obra de um dia,
Passou-me essa fantasia.
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras.
Tuas frívolas quimeras,
Teu vão amor de ti mesma,
Essa pêndula gelada
Que chamavas coração,
Eram bem fracos liames
Para que a alma enamorada
Me conseguissem prender;
Foram baldados tentames,
Saiu contra ti o azar,
E embora pouca, perdeste
A glória de me arrastar
Ao teu carro...Vãs quimeras!
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras...

D
Machado de Assis

**

nos demais o coração tem morada certa,
fica bem aqui dentro do peito,
mas para mim, a anatomia ficou louca,
eu... sou todo coração.

D
Vladimir Maiakovski

**

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é quem estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não em outra alma.
Só em Deus ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

D
Manuel Bandeira